Paul Schrader é um dos principais nomes da escola de cineastas malditos da qual fazem parte Michael Cimino, Abel Ferrara e William Friedkin. Realizador de obras seminais como “A Marca da Pantera”, “Mishima” e “Gigolô Americano”, além de roteiros impecáveis, entre os quais “Operação Yakuza”, “Taxi Driver” e “Touro Indomável”, vinha de uma fase recente com baixíssimo vigor criativo. Isso mudou com “O Contador de Cartas”, que traz Schrader em ótima forma.
William Tell (Oscar Isaac), um jogador de cartas e ex-militar que se propõe a reformar um jovem em busca de vingança contra um inimigo mútuo de seu passado. Sua trilha na rota dos cassinos é abalada quando ele é abordado por Cirk (Tye Sheridan), um jovem vulnerável que procura ajuda para executar seu plano de vingança contra um major reformado.
Tell vê uma chance de redenção através de seu relacionamento com Cirk. Obtendo o apoio da misteriosa financista de jogos de azar La Linda (Tiffany Haddish), Tell leva Cirk com ele na estrada, indo de cassino em cassino até que o improvável trio está de olho em vencer o World Series of Poker em Las Vegas. Mas manter Cirk no caminho certo será uma tarefa problemática.
Schrader imprime um ritmo que acentua a densidade da narrativa. É um filme com uma linguagem que remonta a virada dos anos 70 para os 80, embora se passe nos dias atuais. O diretor carregas nas tonalidades mais escuras (há sequências em branco e preto) como elemento basilar na construção da jornada sombria do protagonista (vale observar o uso desconcertante de lentes em um flashback na prisão de guerra).
Oscar Isaac traz mais uma mostra de seu gigantismo cênico. Em uma atuação potente, transparece o peso e a angústia arrastados pelo personagem. Ele é devidamente amparado por Tye Sheridan e Tiffany Haddish, ambos em desempenhos corretos e funcionais.
Willem Dafoe, que tem sido um colaborador constante do cineasta, tem pouco tempo em tela, mas grande relevância para a trama, mas seus momentos exíguos despeja uma atuação grandiosa como de seu costume.
“O Contador de Cartas” mostra que, ao contrário do que se podia crer, Paul Schrader ainda tem bastante fôlego para nos brindar com aquilo que o consagrou: protagonistas complexos, tramas envolventes com resolução desconcertante. Bem-vindo de volta, Schrader!
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