Imagine se o seu vizinho meio pária ou a sua vizinha atraente fossem alienígenas prestes a resolver um conflito intergaláctico aqui na Terra? Essa é a premissa da inusitada ficção científica francesa “O Império” que com tom satírico mostra como seria um embate extraterrestre debaixo de nossos narizes sem que sequer desconfiemos.
Costa Opal, norte da França. Em uma vila tranquila e bastante pitoresca Jony (o estreante Brandon Vlieghe) é um pescador que veste macacões simples e tem sérias dificuldades em conseguir uma boa pesca ultimamente. Ele mora com sua mãe, que cuida de seu filho pequeno, Freddie. No entanto, logo descobrimos que Freddie, na verdade, é um senhor demônio apocalíptico, gerado por Jony, que por sua vez é um membro da realeza alienígena pertencente a uma seita intergaláctica maligna chamada Zeros, cujo objetivo é destruir o universo.
Jane (Anamaria Vartolomei deslumbrante) é uma One, uma guerreira etérea e sentinela do bem. Ela também vive em uma casinha com sua mãe, uma fumante compulsiva. Jane é a força oposta à escuridão e ao mal, e, junto com seus aliados, percorre trilhas costeiras e becos sem saída para eliminar os Zeros. Usando um sabre de luz triplo (!!!), ela os decapita estrategicamente. Quando mortos, os corpos dos Zeros se dissolvem, revelando globos oleosos flutuantes que estavam escondidos em seu interior.
É possível observar elementos de vários sci-fi, como “Star Wars” (no que se inclui o supracitado sabre de luz, na verdade formado por três lâminas finas juntas), a série “V: A Batalha Final”, e um tom semelhante ao da ficção conterrânea “Pêute-etre”, de 1999 (apenas o tom mesmo, já que aquela trava de viagem no tempo), além de uma ironia puxada para Monty Python.
Chama atenção o conceito maroto das naves-mães de cada um dos grupos. A dos One é uma catedral, tanto por fora quanto em seu interior. Já a dos Zero parece uma versão flutuante no espaço do Palácio de Versalhes. Apesar da galhofa, a direção de arte capricha nesse ponto.
Dentro do olhar sarcástico e anárquico do diretor Bruno Dumont (“29 Palms”), os alienígenas também desfrutam de alguns encontros de sexo al fresco, aproveitando as vantagens fisiológicas de seus disfarces de carne. De vez em quando, a trama é interrompida por uma dupla de atrapalhados policiais locais — o capitão cheio de tiques nervosos e seu tenente ingênuo, vindos dos filmes Lil Quinquin de Dumont —, que estão completamente perplexos com toda a estranheza que acontece ao seu redor.
Em “O Império” nem todas as piadas têm a graça pretendida, embora tente reproduzir o humor peculiar da famosa trupe inglesa. Ainda assim é interessante essa alegoria sobre a crença do ser humano no conceito de bem e mal absolutos, amparada por efeitos especiais até convincentes e um desfecho que é a antítese de uma superprodução hollywoodiana.
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