O novo filme de Ang Lee retrata a história do judeu Elliot Teichberg e seu envolvimento no evento que marcou para sempre os anos 60 e 70, assim como o movimento hippie como um todo. Entretanto, esta não a melhor lente para aqueles que desejam conhecer o que foi este festival. Para estes, recomendo buscar pelo filme “Woodstock” de Michael Waidleigh, este sim um documentário voltado para o registro deste grande evento em todos os seus pormenores.
“Aconteceu em Woodstock” é sobre as pessoas que vieram a se envolver com este grandioso acontecimento e como suas vidas foram transformadas por ele. O protagonista Elliot, residente de White Lake e preside a câmara de comércio da pequena cidade. Ele vive no pequeno hotel de seus pais, que está prestes a ser fechado por dívidas. Na busca por soluções para o problema de seus pais (interpretados magistralmente por Imelda Staunton e Henry Goodman), Elliot consegue convencer os patrocinadores e organizadores do evento de WoodStock (que acabava de ser cancelado graças ao medo das pessoais ditas “normais”) que ele poderia ser realizado na bucólica White Lake.
O filme então passa a ser sobre este processo e como o evento influenciou a vida dos envolvidos, com uma linha condutora que é o desabrochar do jovem Elliot para a maturidade, tema comum a tantas outras películas, que aqui é abordado de forma leve e por que não até um pouco superficial.
Sem dúvidas os personagens que recebem um maior escopo sentimental são Sônia, a mãe de Elliot, uma judia paranóica, mal humorada e pão-dura, capaz de perder seu próprio hotel por se recusar a gastar suas economias. O pai, Jake, uma antítese a sua esposa em quase todos os sentidos, de coração leve e bem disposto. Billy (interpretado por Emile Hirsch que até que se parece realmente comigo nesse filme) recém chegado da guerra do Vietnã, traz para White Lake suas sombrias e psicoses e aos poucos começa a lidar com elas ao lado de seu amigo de infância Elliot.
Um destaque certo vai para Vilma (vivida por Liev Scheirber), um dos comandantes militares da Guerra da Coréia, que se apaixonou por outro homem e virou um travesti. Vilma passa a ser responsável pela segurança do hotel, mantendo sempre o espírito cordial, divertido e principalmente lúcido de sua condição pouco ortodoxa.
A trilha sonora, ainda que excelente e com pérolas como The Grateful Dead, Jefferson Airplane, Janis Joplin, The Doors, Crosby, Stills & Nash, The Band e Steve Winwood fica um pouco apagada. Ela aparece e etc, mas não parece ter tanta relevância no filme e os músicos não ganham nenhum tipo de destaque ao longo da história. O que é algo bastante estranho se temos em mente que o centro do filme é um dos maiores festivais de música que já ocorreram.
O filme é bem sucedido em sua proposta de contar a história das pessoas que viveram Woodstock, seus sonhos e suas perdas. Até mesmo as passagens essenciais e psicodélicas são levadas de forma mais emocional e funcionam muito bem. O grande problema talvez seja um pouco o deslumbrar com o evento. Tudo parece ser belo e caminhar para algo positivo, são poucos os momentos realmente sombrios no filme, passando a impressão de que não houveram “bad trips” no festival como um todo e de que tudo correu perfeitamente bem. Ainda sim, esses problemas não chegam a afetar o desempenho do filme, muito pelo contrário, ele lhe faz fantasiar sobre o evento, em seus tons suaves e delicados.
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