Uma das surpresas da Premiere Brasil do Festival do Rio 2017 atende pelo nome de Júlia Rezende e seu novo filme Como é Cruel Viver Assim. Júlia tem um carreira já estabelecida na seara de comédias românticas, onde ganhou dividendos com a franquia Meu Passado Me Condena, mas demonstrou vigor mesmo no simpático Ponte Aérea. Como é Cruel Viver Assim é baseada na peça homônima de Fernando Ceylão e quem conhece o texto do autor e ator sabe que o deboche comportamental é a tônica de sua dramaturgia. E é aí que a diretora surpreende ao sair do registro adocicado dos trabalhos anteriores, para uma narrativa mais cínica e levemente acima do tom.
O filme acompanha o plano de um grupo de quatro suburbanos, Vladimir (Marcelo Valle), Clívia (Fabíola Nascimento), Primo (Silvio Guindane) e Regina (maravilhosamente interpretada por Débora Lamm), todos com problemas financeiros e/ou apenas visando o oportunismo mesmo, que planejam o sequestro de um ricaço.
A trama é um pretexto para analisar as relações que se estabelecem entre eles e a urgência do acontecimento, que desperta a necessidade de autoafirmação de Vladimir para com a esposa Clívia, além do caráter escorregadio de Regina. Com diálogos rápidos e espirituosos, Julia parece remeter ao universo nonsense dos irmãos Coen, especialmente pelo enfoque direto aos personagens em seus habitats ordinários. O problema aparece quando o roteiro, na necessidade de expandir o texto teatral para a dimensão de cinema, acaba por diluir demais a premissa da história e criando viradas um tanto forçadas.
Por outro lado, a base do texto é realmente consistente, e justifica seus personagens que são muito bons, com destaque para Débora, uma verdadeira atriz camaleoa que desaparece a cada papel. Júlia Rezende tem projetos bem diversos daqui para frente, e a partir desse filme ela comprova que sabe lidar com as exigências de cada um deles.
Cotação: Bom
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