Jean-Luc Godard é mesmo incansável. Aos 87 anos (completa 88 em 3 de dezembro) continua fazendo do cinema um instrumento de reflexão/revolução. O cineasta francês, expoente da Nouvelle Vague traz em seu “Imagem e Palavra” (“Le Livre d’Image”, França/2018) um trabalho de recortes imagéticos para discutir a condição humana, suas angústias e mazelas.
O conceito é similar ao seu longa anterior, “Adeus à Linguagem”, de 2014. É como se fosse uma continuação espiritual (será que vem uma trilogia?). Imagens de filmes, documentários, registros históricos, filmagens caseiras e até desenhos animados, nos mais diferentes formatos de vídeo são aglutinados para refletir a História da humanidade, o eurocentrismo – há utilização imagens sobre o mundo árabe de como são percebidas pelo mundo ocidental – e as bases das relações interpessoais.
De acordo com a ponderação de Godard, a arte é o ato de sobrepor novos hábitos ao que estava estabelecido no século anterior. Nenhuma forma de arte será arte antes que sua época termine. Daí o cineasta propõe um revisionismo crítico, usando as imagens do século passado como ilustração, sonhando com um despertar para a nova consciência. A estética do filme remete ao sonho, inclusive na forma como usa o som surround de forma desconcertante. Na verdade um pesadelo, fazendo um retrospecto de mazelas cometidas ao longo da nossa história. E a indagação: desde quando treinamos nossos pensamentos? É aí que entra o papel inquisidor do cinema, que por mais que alguns temam, nunca vai desaparecer.
A idade avançada pode não permitir a Godard a tarefa exaustiva do set de filmagem. Mas isso não o impede de continuar transmitindo seus (muito pertinentes) argumentos. Ter o francês ainda lançando novidades é sem dúvida um alento para os cinéfilos. Essa atual fase de sua filmografia vem sob um revestimento que indica um epílogo. Mais ainda fiel ao caráter revolucionário da época da Nouvelle Vague. Afinal, o que seria do artista sem o sonho da transformação?
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