De todas as ideias para tornar o mundo mais sustentável essa sem dúvida foi a mais inusitada: encolher pessoas e, consequentemente, sua capacidade de consumo. Reduzidas a 12,7 cm, o custo de vida torna-se bem mais baixo, a produção de lixo é irrisória e o bem-estar bem maior. Basta recorre ao método (irreversível) para reduzir a estatura e ganha-se uma vida melhor. É desse mote que parte Pequena Grande Vida, novo filme do diretor Alexander Payne.
A descoberta de um cientista norueguês que permite uma sociedade de pessoas miniaturizadas atrai milhões. Isso devido à alta qualidade de vida no mundo diminuto. Compra-se uma mansão pelo preço de um quarto e sala. Joias pelo preço de um saco de biscoitos. A possibilidade também enche os olhos de Paul Safrenek (Matt Damon), um terapeuta ocupacional que, junto com a esposa, decide se submeter ao processo de diminuição para se livrar dos altos encargos do mundo em tamanho normal.
Uma pena que uma premissa tão inventiva acabe se esgotando rápido. O roteiro assinado por Payne e Jim Taylor desperdiça uma ótima oportunidade de se criar a ficção científica reflexiva e crítica sobre consumismo que se insinua na primeira meia hora de filme. O viés crítico permanece apenas pontuando alguns momentos. Há um claro desvio de foco. O mote simplesmente muda. Ao invés de abordar questões relacionadas com as implicações da miniaturização, isso parece ser deixado de lado para o desenvolvimento de uma trama corriqueira. Uma frustração e tanto levando-se em conta o potencial do argumento. A sensação que fica é de que se trata dois filmes diferentes. A segunda metade seria uma continuação tardia e pouco inspirada.
É mais ou menos o que ocorre com outro trabalho do diretor, o oscarizável Os Descendentes, que também tinha o script assinado por ele. Mas aqui o desperdício parece bem maior. Até mesmo o sempre bom Christoph Waltz parece estar no piloto automático. Acusado de ser ator de um papel só, ele se esforça, mas com uma matéria prima monocromática resta-lhe muito pouco. Matt Damon como protagonista tem alguns bons momentos, mas, no todo, não escapa da retidão.
Entre (alguns) acertos e (muitos) equívocos, Pequena Grande Vida fica apenas no meio do caminho daquilo a que se propôs. Ou pelo menos do que vendia. Aquilo que poderia render um belíssimo ensaio humanista, acabou se limitando a uma corriqueira sessão da tarde. Com direito a reviravolta final preguiçosa e previsível. Uma pena.
Cotação: Regular
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