Leitor já pensou que entre duas vozes que estalam uma conversa existe no silêncio, ou na pausa, principalmente, muito de uma delicadeza. Mas não é imperativo em todos os diálogos, requer muita abertura e empatia entre os convivas que estão num dueto de prosa. Toda vez que abrir a boca, repare em em quem fala, sua postura corporal, o corpo fala antes do verbo se pronunciar. Este estudo da delicadeza entre pessoas é o grande barato dos filmes de Hong Sang-soo diretor coreano que é bem querido pela crítica mundial cinematográfica.
Em seu novo filme, A Câmera de Claire, ele escala a formidável Isabelle Huppert como uma professora de música que passeia por Cannes com sua insuperável câmera polaroide. Com um vai e vem temporal-narrativo sutilíssimo, o filme tem início na demissão de uma funcionária, Manhhe, de um equipe coreana que está em Cannes acompanhando um diretor coreano que está com um filme em alguma mostra. Ela é demitida por ser “desonesta”. Logo depois encontra Claire que clica fotos para ver no objeto fotografado o que mudou nele após o instantâneo.
A naturalidade dos diálogos entre as duas é cheia de sutilezas e silêncios, é quase um estudo terapêutico da empatia entre dois personagens que se respeitam e se compreendem mesmo acabando de se conhecer. A atríz francesa se despe de toda pompa que Cannes pode lhe dar; não há como pensar quantas vezes a atriz esteve lá para receber ou ser candidada à algum prêmio, não deixa de ser irônico ela estar na pele de uma professora simpática que gosta de fotografar ou (filmar).
A casualidade dos encontros, muito vista em filmes do Woddy Allen, aqui neste adorável filme é ressignificada com alguns toques de metalinguagem, mas também com um processo quase alegórico de montagem. A facilidade de encontros entre os quatro personagens – A produtora/o diretor/Manhhe que vende os filmes do diretor, e a Claire parecem como sinapses de diálogos entre personagens simbióticas como as duas já mencionadas, mas também situações constrangidas como Claire encontrando o diretor e sua produtora num café, onde o diretor está bem bêbado, dão a este filme um teor de ciranda afetiva.
Cotação: Épico
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