AcervoCríticasFilmes

Festival do Rio: “Uma Casa à Beira-Mar” encena sentimentos em relação ao passado

Compartilhe
Compartilhe

O teatro, este jogo que  encena a representação dos sentimentos que todo ator trabalha sobre emoções represadas com o guardado. Mas especificamente no filme, a memória que represou um fato – não à toa, em italiano guardar é olhar – o passado ou o conflito entre passado e o presente que seria a matéria do drama Uma Casa à Beira-Mar, do diretor Robert Guédiguian.

O teatro é apenas uma pequena parte do filme, através de algumas citações de peças mencionadas através da personagem Angelé (Ariane Ascaride), uma atriz que volta à vila para ver o pai Martin (Jacques Boudet), que sofreu um derrame gravíssimo ficando num estado catatônico, mas que serve com um tipo de defesa emocional para ela que guarda uma trauma com relação a dor de uma perda.

Lá encontra o filho Armand (Gérald Meylan), que passou a vida cuidado da vila e do pai e outro irmão Joseph (Jean-Pierre Darrosin) recém-demitido de uma fábrica e escritor de peças e roteiros sobre a causa operária. Os três filhos carregam cada um formas diversas de guardar as lembranças do lugar já bastante distinto de como viam quando jovens.  A vila em questão foi levantada por Martin e um amigo arquiteto, cujo filho trabalha em laboratórios de medicamentos, mandando regularmente o aluguel da casa. O lugar foi atravessado pelo progresso, tem trens passando por uma via acima do terreno, sofre com a especulação imobiliária com os preços da casas subindo cada vez mais.

O diretor trabalha, no caso de quem permaneceu na Villa, como se conservou uma série de valores de uma certa tradição em manter tanto a arquitetura com os costumes e valores atrelados a um estado não progressivo de mudanças sociais, como próprio filho que trabalha na plantação e mexe com um restaurante à beira-mar. Nesta encruzilhada de afetos terão que lidar com a própria materialidade do que evitavam se apegar (no caso os dois que saíram), pois o pai que pode morrer a qualquer momento, começam a discutir a partilha da casa.

Nesta dicotomia de afetos, o filho, autor de peças, com relacionamento à beira do colapso se vê cristalizado em suas emoções com pai. Não sabe se fica na vila ou retorna. Vê que suas posições políticas à esquerda se esbarrarão com a modernidade que torna tudo volátil quanto a própria paisagem que muda com o progresso. Talvez  a grande questão do filme seja como manter uma posição quando tudo se torna mercantilizado, como se apegar as coisas mais sinceras, como a dor da atriz que usa o teatro como anteparo psíquico para trabalhar lembranças ruins e ter um identidade afetiva com seu próprio lugar de origem.

Cotação: Muito Bom

Compartilhe

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
CríticasSériesTV

Como Água para Chocolate: uma deliciosa primeira temporada

Não é o asco dos norte-americanos às produções em outras línguas que...

CríticasGames

Mais Pedras e Puzzles em SokoMage

SokoMage é um jogo de quebra-cabeça estilo sokoban com uma temática de...

CríticasGamesRPG

Necro Story Comedy Club

Necro Story é um RPG que se destaca pela sua abordagem inovadora...

CríticasFilmes

Queer, uma espinhosa jornada pessoal

Adaptação do livro homônimo do escritor norte-americano William S. Burroughs, “Queer” vinha...

CríticasFilmes

A Perfect Love Story: filme bósnio se perde na metalinguagem

A onipresença de Hollywood, nas salas de cinema, serviços de streaming e...

CríticasGames

O que Sucedeu em Next of Kin?

Em agosto de 1990, Thomas Anderson e sua esposa Martha decidiram se...

FilmesNotíciasPremiaçõesSériesTV

Walter Salles comemora as indicações de Ainda Estou Aqui ao Globo de Ouro

Fernanda Torres conquistou uma indicação ao Globo de Ouro pelo filme “Ainda...