Grande vencedor do Festival de Sundance 2013, a primeira coisa que posso dizer sobre este filme, produzido por Forrest Whitaker, é que ele tem coração. Fato este que me fez lembrar de outro título do ano passado, “Indomável Sonhadora”, que se você não viu, por favor, assista!
Existe um frescor na maneira como esta história é contada. Frescor este que vem da naturalidade dos atores, da flexibilidade da câmera, da alegria contagiante dos diálogos e do lirismo emocionante das cenas. Há uma aura de otimismo e amor, que não perde potência nem mesmo com a expectativa crescente de que algo ruim acontecerá. A esperança é forte em Oscar Grant (Michael B. Jordan), que passa seu dia tendo que lidar com pressões financeiras e expectativas da parte de sua mãe, sua irmã, sua mulher e seus amigos. Acompanhar Oscar é aprender um pouco mais sobre as dificuldades que assolam um jovem rapaz negro americano, que não é perfeito, nem livre de irresponsabilidades, mas é uma vida cheia de sentimentos e planos pro futuro que acaba sendo reduzida por muitos como uma categoria de juventude perdida e perigosa, ameaça aos bons costumes e desperdício de oportunidades.
De longe, é um dos filmes que mais gostei ao longo do Festival. Inspirado em algo que ocorreu nos EUA em 2008, “Fruitvale Station” faz uma crítica social ao abuso policial e aponta para as dificuldades que existem quando pessoas marcadas pelo preconceito racial decidem tomar o “caminho do bem”. Como espectadores, nos deparamos com uma dolorosa reflexão: a tragédia que testemunhamos na tela é notícia corriqueira aqui no Brasil. Ou pior ainda, não se torna notícia. Não existe denúncia por parte da mídia, nem as cobranças e manifestações de indignação social, a não ser em casos isolados, como o próprio Amarildo.
E o grande trunfo deste filme é não cair no pessimismo, no melodrama, nem numa denúncia rasa e panfletária. Conclui-se como uma história bem contada, que traz muito mais verdade e afeto do que muitos outros filmes produzidos por aí.
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