David Cronenberg é um diretor de vísceras expostas. Esse é um paradigma quase automático quando se pensa em seus filmes. Mas o tempo e a maturidade vêm agregando certa lucidez(?) ao cineasta, e suas fixações estão menos gráficas e mais metafísicas. Após tentar humanizar a psicanálise no mediano Um Método Perigoso e ironizar o sistema no literário Cosmópolis, ele vem, um tanto colérico, com seu novo filme, Mapas para as Estrelas, banhado de uma criticidade tão assertiva que é capaz de ser o retrato da indústria hollywoodiana mais eficaz feito pelo Cinema nos últimos 20 anos. A trama permeia a vida caótica de vários personagens que compõem a fauna nervosa de Los Angeles, para além do glamour do Cinema. Cronenberg sabia que seu filme necessitava de atores que absorvessem o ridículo de seus papéis, mas construído na pujança de suas humanidades.
E o elenco é maravilhoso, começando pela atuação brilhante de Julianne Moore, num papel dificílimo e conseguindo fugir da previsibilidade e impondo organicidade mesmo dentro da histeria. Junte a isso a segurança de John Cusack, o crescimento cênico de Robert Pattinson, a estranheza de Mia Wasikowska, a ascensão de Evan Bird e as belas cenas defendidas com firmeza por Olivia Williams. A trama é circular, mas não necessariamente anda em círculos. As histórias vão se entrelaçando com sagacidade e Cronenberg não perde de vista seus personagens e os conflitos que personalizam o meio. O interesse latente pelas peculiaridades (tão Cronenberguiano…) do que acontece em suas intimidades sob a perspectiva do sucesso, mantém vivaz a ironia dos termos sobre como Hollywood vive dos que sobrevivem dela. Talvez sua resolução tenha sido um pouquinho apressada demais, mas Mapas para as Estrelas é um filme muito interessante acerca de prerrogativas tão atuais. E o diretor consegue evocar um paradoxo sobre a questão: como a superficialidade da indústria traz em si complexidades sobre a perversão. Todos de alguma maneira caem na questão de forma extrema. E de extremidades David Cronenberg entende. Dessa vez, com menos grafismos, e mais psicologismo efetivo.
nota 4
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