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Filme de encerramento do Festival do Rio, “O Clã” de Pablo Trapero é um recorte de uma época cínica

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Há um grau de cinismo no caráter do patriarca do clã Puccio. Ele literalmente assume as rédeas do seu destino e da sua família, não se importando com as relações de causas (sua) e efeitos (dos outros sequestrados seus).

Baseado em fatos acontecidos há 30 anos na Argentina e que chocou o país pelo grau de absurdos ocorridos no seio de uma família classe média argentina. Dirigido pelo cineasta portenho Pablo Trapero, a película já é na Argentina a maior arrecadação de um filme nacional de todos tempos e, no último festival de Veneza, levou o Leão de Prata de melhor direção.

O diretor preferiu optar por sistematizar o ideário criminoso através de uma narração febril, com alta tensão dramática, e atuações de parte do elenco num realismo visceral. Mas há mesmo dentro desta opção em fazer um filme no gênero mais americanizado, um sub texto correndo ou fluindo para fora da tela, onde as fibrilações de um possível enfarte do núcleo familiar é esmiuçado em suas entranhas. O paroxismo da estória engendraria um tipo de neurose classe-média; do que ela suportaria ao perder o seu “bem”.

O patriarca do Clã, Puccio, Arquimedes (Guilhermo Francella) sequestrava pessoas de posses para pedir um resgate em dinheiro. Caso as coisas não fossem à contento do seu gosto, o refém era abatido à tiros. O clã escondia os sequestrados no próprio lar e os membros faziam-se de dessentidos do cárcere privado da vítima. Mas as ações orquestradas já no quarto sequestro começam a desandar no raciocínio do seu mentor, ainda mais quando o filho Maguila retorna de um exílio voluntário. O interessante é como o diretor esquadrinha a relação especular entre pai e filho (este que mora com a família) onde o filho Alex (Peter Lanzani) move-se pela ação criminosa ajudando o pai no cerne da ação. Todavia, Alex era visto pelo seu ambiente social como um competidor mordaz de aspectos “heroicos-esportivos”.

O que faz em casa, a certo ponto, do filme irá lhe fraturar sua personalidade, principalmente, quando o pai já preso e com ele também encarcerado, pede para lhe surrar, para que seu pai não seja condenado. A dívida de lealdade paterno-financeira, cai no filho como uma pancada edipiana (tipo- eu sou seu rival, agora, se as coisas não andarem bem para nosso lado).

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