Quando Indiana Jones, vivido por Harrison Ford, seu pai Henry Jones, interpretado por Sean Connery, juntos com Sallah (John Rhys-Davies) e Brody (Denholm Elliott) cavalgavam rumo ao pôr do sol no final de “Indiana Jones e a Última Cruzada”, parecia ser o encerramento de um ciclo. Era a época em que os filmes, quando ganhavam uma continuação, no máximo se fechavam em uma trilogia. “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” já é o segundo filme do intrépido arqueólogo produzido após o filme de 1989 que dava a entender ser o último. Em 2008, após um hiato de 19 anos, Indy retornava com “O Reino da Caveira de Cristal”, que até hoje divide opiniões entre os fãs.
A nova aventura nos apresenta um Dr. Jones aos 70 anos, próximo da aposentadoria, sentindo-se deslocado naquele novo mundo de 1969, onde as pessoas estão muito mais interessadas em foguetes e na Corrida Espacial do que em arqueologia e antiguidade. Indy se sente ele próprio uma peça de museu. Até que ele recebe um chamado para a aventura na forma do reaparecimento de sua afilhada Helena (Phoebe Waller-Bridge) que o leva à busca por um artefato que também está sendo caçado por um velho inimigo.
Fica nítido que a Lucasfilm, hoje sob o guarda-chuva da Disney, fez de tudo para desvincular o atual filme de seu não tão querido antecessor, como procedeu com Star Wars, que, na última trilogia, buscou se distanciar ao máximo dos episódios I, II e III, até então vistos como desastrosos pelos fãs (e hoje, ironicamente, gozam de um status maior do que os mais recentes). “Relíquia do Destino” não é uma continuação direta de Reino da Caveira de Cristal, mas os filmes de Indiana Jones tradicionalmente são independentes entre si, então, nenhuma novidade.
James Mangold (“Logan”, “Ford vs Ferrari”) assume a cadeira de diretor que pertencia a Steven Spielberg desde 1981. Versátil (basta checar sua filmografia que possui “Johnny & June” ao lado de “Copland”), Mangold se alterna entre o estilo próprio e a homenagem a Spielberg, visível no eixo de câmera, na homenagem ao inigualável senso de movimentação do cineasta, ainda que em alguns momentos pareça um “cover”.
O roteiro de David Koepp (que também assinou “O Reino da Caveira de Cristal”), escrito juntamente com Jez e John-Henry Butterworth, parceiros de Mangold em “Ford vs Ferrari”, busca a receita da nostalgia aliada à novidade. Os elementos nostálgicos são o sustentáculo do filme. Os impecáveis primeiros 25 minutos, em que vemos um Harrison Ford rejuvenescido 40 anos digitalmente (um efeito impressionante), reproduz fielmente o clima de matinê da trilogia dos anos 80. E na fase protagonizada pelo velho Indy, na qual a trama de fato se desenrola, easter eggs arrancam sorriso dos fãs. Poderia ser um pouco mais enxuto, não só no que tange à duração, mas à quantidade de elementos. É nesse ponto que o filme parece querer se conectar com o novo cinema, no qual a informação – nem sempre necessária – é abundante.
Harrison Ford continua brilhando como o maior aventureiro do cinema. De fato é impossível imaginar outro ator vivendo o personagem, que, segundo o próprio, não terá mais aparição alguma nas telonas, uma vez que Ford pendurou mesmo o chapéu fedora e o chicote. Seu inegável carisma carrega a versão idosa do herói com dignidade e gerando empatia, apesar da ranhetice agravada com a idade.
Phoebe Waller-Bridge interpreta uma personagem que é uma espécie de versão reversa de Jones, com algo de Marion e até mesmo Belloq, o concorrente de Indy no filme que deu origem à série. Sua interpretação é adequada, mas é um pouco difícil simpatizar com Helena Shaw, tal como foi delineada. A intenção era criar uma adorável anti-heroína de personalidade robusta, todavia, os roteiristas pesaram a mão e esse desiderato não foi alcançado, embora não chegue a comprometer a trama. Helena faz parceria com um garoto marroquino Terry (Ethann Isidore), que é colocado na história para funcionar como um novo Short Round, mas essa tentativa também é falha. Já Mads Mikkelsen compõe um vilão convincente e bastante merecedor de configurar na galeria onde estão Mola Ram e Toht.
John Williams brilha com uma trilha sonora inspirada. Do alto de seus 91 anos e 169 músicas para o audiovisual, parece que nunca esteve tão entusiasmado em compor, basta prestar atenção em seus últimos trabalhos, como o que realizou em “Os Fabelmans”. A trilha é indubitavelmente um dos principais trunfos de “Indiana Jones 5”, sem contar, é claro, com o clássico tema principal, que, quando surge, cumpre a tarefa de não nos deixar esquecer da força do legado da série.
“Indiana Jones e a Relíquia do Destino” de fato não é o melhor filme da saga, ficando seguramente abaixo da trilogia clássica. No entanto, fica à frente de seu predecessor e consegue proporcionar bom entretenimento. As cenas de ação absurdas, com vários desaforos às leis da física, estão lá – apesar de a fisicalidade do personagem ter diminuído para se ajustar à sua idade – e o cheirinho de sessão da tarde permeia as 2h34 de duração. Se não é a despedida perfeita (como seria se “A Última Cruzada” tivesse sido mesmo o derradeiro), o longa pode ser encarado como um belo epílogo.
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