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“Minhas Tardes com Margueritte” é sobre surpresas agradáveis da vida

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Germain Chazes (Gerárd Depardieu) é uma criatura chula, deve ter lá seus 50 anos de idade, mas é praticamente analfabeto. Mora em um trailer no quintal de sua mãe, que o trata com indiferença, o despreza, vive arrancando os alhos-porrós de sua horta, e sempre foi assim. O filme, para explicar os traumas de vida e para justificar a construção do personagem Germain, utiliza de alguns flashbacks, voltando à infância do ogro francês, constantemente zombado por seu professor e sem receber qualquer afeto por parte de sua mãe austera.

Germain também é motivo de chacota para seus amigos, vivem caçoando de sua falta de conhecimento na mesa do bar de Francine. Este núcleo de personagens do filme é responsável por acrescentar uma dose de comédia ao drama, sem contar o próprio Germain que, por sua ignorância, tem algumas falas divertidas.

Então, ele encontra Margueritte (Gisele Casadesus) em um banco de praça nesta pequena cidade francesa do interior, onde viviam. Daí em diante, a história se desenvolve de forma natural e é possível acompanhar as mudanças e o crescimento do chulo Germain. A senhora, de 96 anos na vida real, torna-se o compromisso das tardes de Germain, que vai encontra-la na praça para horas de leitura. Versos, palavras, histórias fantásticas da literatura são apresentadas a ele com afeto pela primeira vez em sua vida.

A senhora Margueritte, magricela, sempre com vestidos floridos e um simpático sorriso no rosto, carrega consigo uma pequena almofada vermelha para se sentar no banco da praça. Lá, passa as tardes a observar os pombos. É desta forma que os dois passam a se conhecer, já que Germain também tem mania de observar os pombos, conta-los e até nomeá-los. Ela é apaixonada por livros e, aos poucos, vai despertando essa paixão em Germain. No entanto, logo mais Margueritte não poderá mais fazer o que mais lhe agrada na vida. Sua visão está ficando cada vez mais prejudicada e, em pouco tempo, as palavras se tornarão apenas um imenso borrão escuro aos olhos dela.

Então, o cinquentão caipira é levado a superar suas dificuldades para que suas tarde com a amável senhora não cheguem ao fim. Uma amizade encantadora entre um semianalfabeto e uma frágil velhinha havia nascido.

Mas Margueritte é levada embora por seu sobrinho que não mais consegue bancá-la no asilo. Vão para bem longe em um momento em que um turbilhão de situações novas estão ocorrendo na vida de Germain, como a morte de sua mãe, que traz à tona todo o sentimento de mãe para filho, tão desejado por ele e que agora desperta de uma pequena caixa deixada por ela, com pertences e fotos que provam que existia afeto.

“Minhas Tarde com Margueritte” emociona. As incríveis atuações de Depardieu e todos os outros personagens muito bem construídos emocionam. A própria história, que não traz nada de novo ao cinema, é capaz de emocionar, e muito, o espectador. O filme é curto, tem pouco mais de 80 minutos, mas a forma como vai mostrando os acontecimentos é completamente calma, envolvente, simples e encantadora. É sempre bom ver que sentimentos genuínos como o amor, a generosidade, a simplicidade podem aparecer em obras como esta, e não da forma piegas, insossa como no mais do mesmo hollywoodiano.

E não pense que é filme para ser classificado como os outros extremamente artísticos franceses. Parece que o diretor Jean Becker buscou atingir um público maior, menos seleto. Os diálogos inteligentes, as lindas poesias não fazem do enredo algo complexo, ambíguo. Ao contrário, ilustram de forma delicada e sutil esta obra cinematográfica que enaltece a vida e os encontros que por ela vão acontecendo.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=9M3ArjDkPvA[/youtube]

[xrr rating=3/5]

Título Original: La Tête en Friche

Duração: 82 min

Direção: Jean Becker

País de Origem: França/2010

Estreia no Brasil: 27 de maio de 2011


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