Quando chegamos ao final devastador do excelente Miss Violence, o silêncio é a única forma de colocar para fora toda a sensação de perplexidade contida nesse filme tão perverso, perturbador e, sob diversas perspectivas, deprimente. Muito premiado por festivais pela Europa, como o seletivo Festival de Veneza, o longa do diretor grego Alexandros Avranas é quase uma alegoria sobre a desmedida falta de juízo de valor da tirania. Mas não uma tirania qualquer. Mas, sim, uma tirania silenciosa e assustadoramente íntima. Também poderíamos enxergar ecos da crise político-social Grega. Não deixa de fazer sentido. Avranas parte da crise de valores de meio, para determinar o retrato de seu sadismo. Tudo começa com um surpreendente suicídio de uma menina de 11 anos, no dia de seu aniversário, diante de toda a família. Ao tentar entender as razões desse desastre, acabamos por conhecer a trágica disfuncionalidade dessa família, aparentemente, irretocável.
O diretor constrói sua narrativa com frieza pragmática. Os acontecimentos vão se sucedendo e se revelando em doses homeopáticas, a princípio na relatividade do implícito, e depois, se desenrolando na crueza da (inacreditável) exposição. Chega ser aterrorizante a veracidade com que o diretor trabalha sua história. E isso fica claro pela destreza com que dirige seu ótimo elenco, com a forma como conjuga a direção de arte condescendente através de uma precisa fotografia e pela contenção no uso de trilha sonora. Tudo isso para revelar facetas humanas que não queremos ver, mas não conseguimos desacreditar. O silêncio no fim do filme diz muito sobre como ele mexe com a nossa sensibilidade de uma maneira aguda e direta. Esse excesso de realismo extremo, torna Miss Violence uma obra irretocável até para o mundo em que a gente vive hoje. Seus efeitos reverberam sobre nós por longos dias…
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