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O filme italiano “Dafne” trata de luto e deficiência com leveza

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Dafne é uma mulher de cabelos pintados de vermelho. Ela acabou de perder a mãe, e tem de aprender a conviver não apenas com o luto, mas com o seu pai, com quem não tem uma ligação tão íntima. Ela é carinhosa, independente, inteligente, bem-humorada, apreciada por todos em seu trabalho. E há ainda um detalhe: Dafne é portadora da Síndrome de Down. No final de uma viagem em um feriado, sua mãe, Maria (Carolina Raspanti), sente-se mal subitamente e falece. A morte dela é um choque para todos, em especial para Dafne, que sempre a teve como modelo, e para Luigi (Antonio Piovanelli), pai da menina, que sempre a relegou ao cuidado da esposa.

Dafne trabalha no estoque de um supermercado. É no trabalho que ela conhece Camilla (Francesca Rabbi), que logo se torna uma grande amiga. Fora do trabalho, Dafne participa de atividades como bailes e reuniões com sua amiga Viola (Angela Magni), também portadora de Síndrome de Down. Seu maior desafio será enfrentado dentro de casa, pois fora dela Dafne vive uma vida perfeitamente normal.

Cada pessoa vive o processo do luto de uma maneira, e isso é também verdade para as pessoas com deficiência. Não há certo ou errado para enlutados. Luigi, o pai de Dafne, perde a vontade de trabalhar após perder a mulher, enquanto Dafne se mostra agressiva em alguns momentos depois da morte da mãe.

Mas existem vários tipos de luto, e o filme está aí para nos lembrar disso. Luigi já viveu outro tipo de luto décadas atrás: quando Dafne nasceu e ele recebeu o diagnóstico de Síndrome de Down, ele também viveu um luto, referente à morte da filha idealizada. Luigi fala sobre isso em uma conversa com uma hoteleira que os hospeda. Não é à toa que um conhecido documentário brasileiro sobre pais que lutam pelos direitos de seus filhos com Síndrome de Down é intitulado “Do Luto à Luta” e mostra como estes pais precisaram lidar com a morte de uma expectativa para enfrentar uma realidade inesperada.

Luigi e Dafne têm a oportunidade de ficarem mais próximos quando fazem uma grande viagem a pé por várias trilhas montanhosas, até chegarem ao local onde Maria foi enterrada. Será a oportunidade que o pai terá para ver a filha com outros olhos – da maneira como nós a estamos vendo desde o começo, mas que para um pai distante pode demorar a ser descoberta.

Na tentativa de se fazer um cinema mais inclusivo, pessoas com deficiência protagonizaram diversos filmes nos últimos anos. Um filme deste filão é o brasileiro “Colegas” (2012) que, assim como “Dafne”, também tem protagonistas com Síndrome de Down. Tais produções mostram não apenas as potencialidades das pessoas com deficiência, mas também normalizam sua existência – lembremo-nos de que, até pouquíssimo tempo atrás, não víamos pessoas com deficiência em espaços públicos porque elas viviam trancadas em casa ou em hospitais psiquiátricos. Com aceitação, inclusão e acessibilidade, pessoas como Dafne podem viver sem problemas, e suas deficiências se tornarão o que a Síndrome de Down é para a protagonista deste singelo filme: apenas um detalhe.

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