Festival do Rio: O húngaro "Corpo e alma" mostra o balé de uma aproximação amorosa – Ambrosia

Festival do Rio: O húngaro “Corpo e alma” mostra o balé de uma aproximação amorosa

Nada mais cru que um abatedouro de vacas e ali qualquer tipo de informação é deglutida sem meio tom. Não se trata de dizer que o meio faz o homem em se tratando de um lugar de carnificina. Mas passando para o apetite da carne, estes homens e mulheres que nutrem uns pelos outros  há milhares de anos, além do viés biológico, dá uma mesa de discussão sobre os temperos do desejo. Nada mais impertinente que discutir gênero num abatedouro, sentir a fumaça das paredes ou do chão repleto de sangue. O desejo seria mais renitente num lugar destes? Como? Trabalhariam os seus funcionários onde homens e mulheres estabelecem códigos de conduta neste lugar.

Quando Maria (Alexandra Borbély)  começa a trabalhar no abatedouro como uma pessoa que controla a qualidade da carne, vemos pelos seus métodos que são um tanto rigorosos tendendo algum tipo de toque. O diretor da empresa Endre (Morcsányi Géza) fica bem interessado na jovem. Através de um questionário de uma psicóloga que entra na empresa para investigar um delito envolvendo um substância que potencializaria o desejo sexual, os dois, Maria e Endre, através das perguntas da psicóloga, descobrem que sonham o mesmo enredo. Uma campina onde há dois cervos que praticam um tipo de atração mútua. Os mesmos detalhes são descritos por eles sem tirar nem pôr.

O sonho seria um tipo de catalizador do que outro sente bem à priori sobre aquele que acabou de conhecer. Uma faísca do enamoramento. O grande trunfo da diretora do filme Corpo e Alma,(na tradução para o português), Idikó  Enyedi, é não enovelar o filme numa discussão permanente sobre a questão do gênero, desenvolvendo à partir do primeiro terço do filme uma relação ora de aproximação ora de recuo de ambos os parceiros. Como quase um balé onde os movimentos e contatos obedecem aos ditames além do corpo, mas também de receios e medos e recalques marcados no corpo de ambos. O humor dito involuntário, aquele que é provocado pela falta de aptidão ou de hábito quando não sabemos ou temos um tipo de código sobre, no caso, o envolvimento amoroso. Toda a narrativa começa a sugestionar uma  ordem que beira a parvorice, mas não é algo feio, muito pelo contrário, requer uma graça tanto do Endre como da Maria.

Amar verbo intransitivo, já disse Mario de Andrade, requer complemento? Mas é sem noção de sua complementaridade. Endre parece ser um homem machucado por uma série de percalços amorosos. Quando a psicóloga  pergunta quando foi a primeira vez que ele ejaculou,  ele se desajeita e quase fica enrubescido. Talvez o balé do afeto seja  algo que uma câmera de cinema goste de tocar porque há tantas sugestões,  indícios evasivos, meios tons, que na mão de uma diretora como esta rendeu um belo filme.

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