“Ó Paí, Ó” foi um filme que surpreendeu o circuito exibidor brasileiro em 2007, afirmando a força da cultura baiana além da axé music e dos trios elétricos que o sul e sudeste pouco conhecem. Dirigido por uma cineasta que, apesar de branca, é originária da terra de todos os santos e douta na cultura periférica soteropolitana, a produção trazia uma exuberância hipnótica que a transformou em um sucesso instantâneo. Passados 16 anos chega a continuação, “Ó Paí, Ó 2”, mostrando que o cinema nacional está cada vez mais interessado em transformar sucessos em franquias. A ideia era, obviamente, levar o espectador de volta àquele universo tão contagiante do longa original.
Nessa sequência temos Lázaro Ramos de volta ao papel de Roque, junto com uma nova geração de personagens, filhos dos moradores do velho cortiço no Pelourinho, em Slavador. Ele está prestes a lançar sua primeira música e acredita que vai finalmente torná-lo um artista de sucesso. Os jovens são engajados na causa racial, mas isso é mostrado com bom humor, adornado com música e poesia. Mais de uma década e meia se passou e o cortiço de Joana continua carregado de tintas quentes, com muita confusão e “causos”. Dona Joana segue lidando com o luto pela perda de seus dois filhos e tendo dores de cabeça com os inquilinos. Já Neusão perdeu seu bar para uma turma de caráter duvidoso, e precisará da ajuda dos vizinhos.

Dessa vez sob direção de uma cineasta negra, Viviane Ferreira (a segunda mulher negra a dirigir individualmente um filme de ficção no Brasil), a saga da turma do Pelô procura reafirmar o papel da resistência. Nesses tempos em que movimentos que buscam manter a classe dominante com privilégios inabalados se mostram de forma mais clara, ela viu necessidade de uma abordagem mais assertiva, e isso se deu pelo slam, espaço de manifesto e poesia promovido por jovens da periferia.
As cores quentes marcantes do filme original estão ali, assim como o alto-astral e o bom humor. No entanto, “Ó Paí, Ó 2” se mostra um filme mosaico que não se sustenta por costurar os núcleos de maneira frouxa. São arcos de personagens que não se concluem, personagem que surge na trama sem um propósito. E mesmo o desfecho da linha narrativa principal se dá com uma solução um tanto apressada.
Lázaro Ramos mais uma vez é a força motriz da trama. Ele retorna ao papel de Roque sem perder o carisma e é o mola propulsora da nostalgia de que o filme se vale. Em alguns momentos temos a sensação de que o personagem ficou congelado no tempo, como se esses 15 anos não tivessem passado. Ainda assim, é divertido vê-lo repetindo a interpretação do artista baiano tão à vontade.
“Ó Paí, Ó 2” termina por ser muito mais um exercício de nostalgia do que uma continuação necessária. O novo filme se empenha em trazer as cores e o bom astral do original, mas esbarra na fragilidade do roteiro. O trunfo é a força do elenco e a compreensão daquele universo por parte da diretora.









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