Historicamente o gênero de espionagem só encontra justificativa que o valha na urgência de sua ambientação política. O resto é enfoque e estética, basicamente. O escritor Tom Clancy (morto em outubro passado) seguia a risca essa premissa para criar suas engenhosas tramas do gênero, em livros que influenciaram diretamente o nicho no cinema. Estamos falando do icônico Jack Ryan, personagem recorrente no cinema, principalmente na década de 90 em filmes, no mínimo, notáveis. Em 2002, chegou a esboçar uma sobrevida no subestimado “A Soma de Todos os Medos“, com Ben Affleck. Em sua reimaginação, o cargo coube ao ator Chris Pine numa tentativa (iniciada no filme de 2002) de modernizar o universo de Clancy. Mas é aí que o filme começa a expor suas fragilidades: a modernização foi priorizada e a contextualização política – tão vital para esse tipo de filme, já que estamos falando de espiões à serviço do governo – acaba diluída em sua falta de urgência.
“Operação Sombra: Jack Ryan” mostra o herói envolto com uma nova tentativa dos russos de acabar com Nova York, numa reação para tomar oleodutos iraquianos. A inverossimilhança no viés obsoleto com reflexos claros da Guerra Fria afeta bastante o andamento da história. E o diretor Kenneth Branagh – que parece que quando está longe de sua fixação Shakespeareana deixa o vigor do lado de fora do set – cristaliza todos os clichês do roteiro antiquado (Kevin Costner até bem, mas num personagem previsível em sua onipresença) e o thriller segue em banho maria, sem qualquer lapso de tensão ou momento clímax que o valha. No fundo, o filme nem é ruim, mas se olharmos para trás (e nem vou nivelar pela matriz literária) constataremos que é o pior da “franquia”. O que é bastante sintomático no ano em que Paul Greengrass completa 10 anos de redefinição do gênero no ótimo “A Supremacia Bourne” em que nos ensinou que o gênero pode até ficcionalizar um cenário político, mas nunca deve subestimar o factual.
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