A filmografia de George Clooney como diretor vem se estabelecendo cada vez mais como versátil e valorosa. Depois de sua estreia em “Confissões de uma Mente Perigosa“, trabalho bastante autoral que, além de uma inteligente parceria com Charlie Kaufman, o revelou como um ótimo diretor de atores. Clooney nos trouxe também o belíssimo “Boa Noite e Boa Sorte“, sobre os bastidores de um famoso programa jornalístico de televisão que enfrentou as duras amarras e ameaças do período McCartiano e mais uma vez se focou na excelente escolha do elenco e suas interações intimistas dando forma ao conteúdo político.
Em 2011, “Tudo pelo Poder” veio fazer uma crítica aos bastidores das eleições americanas, mostrando que, infelizmente, boas intenções nunca se bastam e como a ambição pode transformar uma pessoa.
Agora, em “Caçadores de Obras-Primas” (Monuments Men), George Clooney resolveu fazer mais um filme com uma história que precisava ser contada. Ambientado no meio da Segunda Guerra Mundial, num estilo um pouco parecido com a trilogia “11 homens e um segredo“, de Soderbergh, da qual participou, a personagem de Clooney, Frank Stokes é um diretor de museu, especialista em conservação, preocupado com o destino das grandes obras de arte da cultura ocidental que estão no meio do fogo cruzado entre Alemanha e Estados Unidos. Após uma reunião com o presidente Roosevelt, Stokes prova, através de registros filmados, que muitas delas já estão sendo destruídas na Itália e agora, com a presença nazista na França, muitas outras estariam em perigo. Apesar do presidente se mostrar cético em relação ao sucesso desta operação, aprova a iniciativa. A partir daí, Stokes recruta outros seis homens, especialistas em arquitetura, escultura, pinturas e restauração para poderem, juntos, identificar e proteger o destino das obras-primas.
Apesar do clima ser leve, com piadas e uma deliciosa cumplicidade entre os atores, essa história é baseada em fatos reais e trata de uma ameaça que, se tivesse sido concretizada, teria acabado com muitos dos registros artísticos da cultura ocidental. Em um discurso inspirado de Clooney, quando confrontado com a questão moral de se vale a pena ou não colocar homens em risco por causa de objetos, ele fala sobre a importância da herança dessas obras-primas para as gerações futuras, pois quando morremos, sobretudo em massa durante uma guerra, o que fica são nossos trabalhos. A arte mantém a tradição, mantém a linguagem, a visão, fala sobre toda uma cultura que existiu e nos possibilita entender melhor o homem daquela época, assim como o homem universal.
Tendo isso em vista, é tocante ver o esforço destes homens de meia idade se colocando em situações de risco para poderem salvar arte, tarefa essa tão importante e nobre quanto a de lutar para defender seu país.
Ao longo do filme, descobrem que não só estão tentando proteger as obras de serem destruídas durante batalhas, mas que principalmente, terão que protegê-las dos intentos egocêntricos de Hitler, grande apreciador da arte, que está roubando muitas delas e estocando-as em diferentes locais para criar um Museu do Führer.
Cate Blanchett interpreta Claire Simone, curadora do Jeu de Paume, um dos maiores museus de Paris, que apesar de fazer parte da Resistência, mantém as aparências ajudando os alemães a catalogar e retirar as obras de lá. Quando James Granger (Matt Damon) aparece querendo saber o que ela sabe, ou seja, o destino de tudo que foi roubado, Claire se mantem desconfiada e recusa-se a compartilhar seu conhecimento por medo de que o interesse americano seja o mesmo que o dos Russos: levar as obras encontradas para seu próprio país ao invés de devolvê-las.
O filme possui várias falhas. É mal articulado em determinados momentos, meio desconjuntado, apela para um pseudo-romance entre personagens que não possuem empatia romântica e, como era de se esperar, apela para um sentimento nacionalista, salvadores da pátria e da cultura ocidental, muitas vezes regado por um melodrama desnecessário. Às vezes, em discussões com outras pessoas, acho exagerado pensar que determinadas escolhas são escolhas tão conscientes de como representar o herói americano acima dos outros. Mas nesse filme, em que os únicos feridos do grupo são os estrangeiros, tenho que concordar que poderiam ter feito um pequeno esforço para dar mais créditos às outras culturas participantes.
Bom, certamente é um dos filmes mais fracos de Clooney, mas aborda um tema interessante com atores inspirados e talentosos, que além de trazer uma importante reflexão sobre a importância da arte, é também regado de reviravoltas que se tornam mais incríveis ainda por terem acontecido de verdade.
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