Palmer é um drama americano dirigido por Fisher Stevens (Seremos História?), com roteiro de Cheryl Guerriero (Universidade do Prazer). Traz a história de um ex-presidiário que, após 12 anos de prisão por uma explosão violenta, retorna à casa da avó para reconstruir a vida.
Ao lado de sua casa, mora um menino muito especial com quem estabelecerá uma amizade inesperada. Ter que cuidar dele enquanto sua mãe viciada em drogas sai de viagem causará problemas com sua liberdade condicional. Estrelado por Justin Timberlake, Juno Temple, Ryder Allen, Alisha Wainwright, June Squibb, Dean Winters, Wynn Everett e Jesse C. Boyd.
Palmer é um drama com conotações sociais que funciona mais como uma fábula do que como um estudo realista das questões que aborda. Mas, conta uma história muito bonita de integração e aceitação de quem é diferente, o que o torna digno do nosso tempo. Exala sensibilidade por todos os lados, por isso aviso que pode fazer você chorar em algumas sequências.
O diretor Fisher Stevens, com extensa carreira de ator, extrai uma interpretação honesta de Timberlake que surpreende pela química que consegue com o pequeno Ryder Allen, que foi indicado ao Critics Choice Award pela atuação (Best Young Actor/Actress).
Essa relação se torna o eixo da trama sobre a qual se estrutura esta história sobre segundas chances.
O personagem Palmer, à primeira vista, poderia ser considerado o estereótipo mais representativo da masculinidade que o povo norte-americano mais conservador possui. Com uma aparência ruim e cheio de tatuagens, na juventude foi popular, era o quarterback titular do time de futebol americano e fazia parte do típico grupo de amigos de rua que, meio bêbados, faziam algumas loucuras para demonstrar sua estúpida bravura. Durante um assalto, as coisas deram errado e ele acabou espancando violentamente um homem. Foi detido pela polícia e encarcerado durante 12 anos.
Mas tudo isso agora faz parte do passado. Palmer é um filme que foca na fase posterior daquele homem, quando sai da prisão, com a lição aprendida e em busca de retomar um novo caminho para sua vida. Para isso conta com a ajuda da avó, uma mulher de grande coração que o acolhe, com a única condição de acompanhá-la à missa aos domingos.
À sua frente, uma família desestruturada. A jovem mãe é viciada em drogas, o cara que ela vive tem perfil de abusador e a criança tem um caráter muito especial. Como a mãe e o padrasto estão sempre viajando ou desaparecidos, o menino é cuidado principalmente pela avó de Palmer e não tem escolha a não ser se acostumar com a presença dele em casa.
Ele imediatamente entende que o menino, Sam, não é como os outros da cidade. Ela adora brincar de boneca e seu sonho é pertencer ao clube das princesas voadoras, desenho animado que assiste pela televisão. O grande sucesso do filme é o retrato daquela criança. Apesar da vida miserável que leva com um pai desaparecido, um padrasto que abusa dele, uma mãe que nunca está presente e colegas que o intimidam, o menino sempre aparece feliz e com um sorriso no rosto. Ele se sente confortável consigo mesmo. Para retratar esses temas, evita cair na abordagem usual do drama social. Será inevitável se apegar ao caráter da criança e sorrir diante de momentos como assistir à aula vestida de princesa. E mais um aviso, Palmer nunca cai em doutrinação ideológica ou discurso panfletário.
A primeira reação do personagem interpretado por Justin Timberlake para com aquela criança será olhar para ele com desaprovação. Todos já fazem isso e ele ainda precisa aprender a abandonar essa herança cultural, a mesma que o elevou na juventude como um ícone da masculinidade idealizada. Mas, aos poucos, a rejeição inicial se transformará em admiração pela determinação da criança em ser ela mesma. Quem é ele para julgá-lo? Uma relação inesperada entre pais e filhos surgirá entre os dois, onde cada um encontrará no outro a segurança necessária para enfrentarem juntos o que enfrentarão.
Palmer é um filme sobre os sentimentos mais puros. Há um tom de clichês e telefílmico que poderia ter feito o filme cair na nerdice mais boba, mas Fisher Stevens mantém o pulso e o equilíbrio para evitá-lo. Como esperado, haverá pessoas na cidade que não facilitarão as coisas. Por um lado, não compreenderão o desvio que a criança toma na tradição cultural dos papéis de género. Por outro lado, comprometerão a liberdade condicional de Palmer, que se tornará seu protetor. O roteiro se compromete com a previsibilidade e podemos antecipar o que vai acontecer em cada cena. Nesse sentido, o filme é repleto de lugares-comuns, mas sem incomodar.
Palmer tem um tom gentil que busca valorizar as pessoas boas e os bons sentimentos. Um filme comovente, provavelmente não ficará na nossa memória por muito tempo, mas fará com que nos divirtamos enquanto o assistimos.
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