“Punhos de Sangue” (Chuck, EUA/2017), o narrador-personagem diz logo na introdução “você conhece minha história, mas não sabe que conhece”. A vida do lutador Chuck Wepner dava um filme, e de fato deu, e todo mundo viu. “Rocky: Um Lutador” foi criado a partir da história de Chuck, um lutador pouco conhecido que ganhou a chance de disputar o título dos pesos-pesados com ninguém menos do que Muhammad Ali. Esperava-se que a luta estivesse encerrada no terceiro round. Ali de fato ganhou, mas levou 15 assaltos para alcançar a vitória. Por pontos, faltando 19 segundos para o final.
Aquilo por si só foi um feito para Chuck, então com 36 anos, considerado velho para os ringues e sem nunca ter tido uma grande projeção no mundo do boxe. Quanto mais a luta avançava, mais chocadas as pessoas ficavam. Entre essas pessoas que se impressionaram vendo essa luta pela TV estava Sylvester Gardenzio Stallone, que se inspirou para criar o roteiro do filme que mudaria a sua vida. 40 anos depois, o diretor canadense Philippe Falardeau resolveu levar para as telas essa história de que muitos não lembravam ou simplesmente desconheciam. É um daqueles casos em que a vida foi eclipsada pela arte.
A trama acompanha a trajetória do campeão estadual de pesos-pesados pela Filadélfia conhecido como The Bleeder (interpretado por Liev Schreiber) devido a sua capacidade de resistir no ringue por mais que sangrasse. Inicia-se no momento em que está prestes a ocorrer uma decisiva reviravolta, quando é selecionado para a luta com Ali, e segue expondo a transformação em uma pequena celebridade, sobretudo depois do sucesso de “Rocky”. Porém, a vida de Chuck não se confunde com a saga do Garanhão da Filadélfia. Retire todo o floreio como a imponente trilha sonora de Bill Conti e a corrida triunfal pela escadaria do Museu de Artes e o que fica é uma história tão crua quanto o seu estilo de luta, do qual tanto se orgulhava. E o diretor procurou deixar isso bem claro. o filme tem um tom quase documental, sobretudo na primeira metade, em que a narrativa é entrecortada por cenas filmadas como se fossem imagens de arquivo que se alternam com arquivos reais. Já a segunda parte é mais focada na dramaturgia propriamente dita, com conflitos pessoais e os problemas familiares que se sucederam.
O roteiro – que tem Schreiber entre os autores – condensa competentemente os eventos da vida de Chuck em uma duração não muito longa (apenas 98 minutos), embora a progressão temporal um pouco acelerada no terço final cause uma certa confusão. Mas é a acertadíssima escolha do elenco que abrilhanta o resultado final. Schreiber faz uma composição bem próxima do pugilista, embora escorregue um pouco em alguns trejeitos que remetem ao Rocky Balboa de Stallone. Destacam-se as atuações de Ron Perlman, como o agente do lutador, e Elisabeth Moss, como Phyliss, esposa e mãe de sua filha. Cogitar ao menos uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz não seria absurdo.
“Punhos de Sangue” traz uma história real, contada de maneira realista, recorrendo pouco a elementos para tornar os fatos mais palatáveis cinematograficamente (deslize cometido pela maioria das cinebios). Sem aspiração de ser um filme definitivo sobre boxe junto com “Touro Indomável” e o próprio ‘Rocky’, mas com o mesmo cuidado em explorar o drama humano por trás do glamour do esporte sangrento.
Filme: “Punhos de Sangue” (Chuck)
Direção: Philippe Falardeau
Elenco: Liev Schreiber, Elisabeth Moss, Ron Perlman
Gênero: Cinebiografia, Drama
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Paris Filmes
Duração: 1h 38min
Classificação: 16 anos
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