O filme de Watchmen será certamente o maior divisor de opiniões do ano (possivelmente para sempre no quesito adaptação de quadrinho), em diversos locais diferentes somos bombardeados por críticas radicalmente opostas (um ótimo exemplo é o próprio Ambrosia, com matérias bem diversificadas sobre a obra) sobre a qualidade do mesmo. Não iremos mostrar muito disso por aqui, minha opinião sobre o filme está disponível no portal e o tema deste artigo é a novidade “Tales of the Black Freigher” (Contos do Cargueiro Negro).
Esta matéria é uma pequena resenha do DVD / Blue-Ray que foi lançado pela Warner/Paramount cinco dias após a estréia mundial de Watchmen, em uma dupla tentativa: Snyder quer agradar aos fãs que pediam por estas histórias e a Warner tentando reanimar as decadentes vendas do mercado de DVDs.
A primeira coisa que fica claro já na capa do produto, é que ele foi produzido para os fãs, dificilmente um espectador casual iria desembolsar os dezesseis dólares para assistir um conjunto de extras do filme (que vale lembrar, em sua terceira semana ainda está longe de se pagar). É notável também que o destaque fica para a animação, que me parece bem mais irrelevante (e tem a metade da duração) do que o documentário fictício “Under the Hood” (Sob o Capuz). O DVD também apresenta alguns pequenos extras como um “making of” e cenas dos bastidores. Como os dois conteúdos principais são completamente diferentes e sem relação, irei falar um pouco sobre os dois separadamente.
Contos do Cargueiro Negro
A seqüência de quadros que ao longo de Watchmen, compunha a edição de “Contos do Cargueiro Negro”, é um dos momentos mais memoráveis da obra. Não só pela estranha simbiose temática e crítica que a mesma tinha com o todo, mas por ser uma narrativa instigante e bizarra ao mesmo tempo. No original, um garoto passa boa parte do seu dia lendo revistas ao lado da banca de jornal. Naquele mundo fictício, revistas sobre piratas são um gênero muito popular de quadrinhos (na medida que heróis de verdade, colocaram um fim as suas contra-partes na arte seqüencial), e “Contos do Cargueiro Negro” foi uma série bastante popular em sua época. A edição que o menino tem em mãos se chama “Marroned” (algo como Abandonado), e narra a história de um capitão, único sobrevivente de um ataque do Cargueiro Negro, abandonado em uma ilha, traça um plano desesperado para salvar sua cidade natal e sua família.
Os dois diretores Mike Smith (Futurama) e Daniel DelPurgatorio conseguiram realizar um trabalho esplêndido, melhor até do que o de Snyder no filme principal. A animação é ousada e possui uma narrativa bastante original. Ainda temos a mesma história, mas ela é montada com maestria e inovação, se tornando algo claramente diferente e interessante. A arte, no quesito dos traços dos personagens, me parece bem melhor do que a de David Gibbons, mais estranha e atmosférica, assim como a paleta de cores responsável por um novo clima, que é bem mais sombrio do que o da HQ (ainda que o fato do quadrinho ser bem colorido seja uma das coisas legais sobre ele, pois fica em dicotomia com a história retratada), onde antes tínhamos muito azul, verde e amarelo, temos agora um mar escarlate, as vezes azul muito escuro, tons mais sóbrios que refletem bem a atmosfera de medo e desespero do capitão.
Outro trabalho excelente é a dublagem, Gerard Butler (Leônidas de 300), faz um exímio capitão, e sua voz transmite com facilidade as intempéries da história. A própria narrativa como um todo, perdeu o tom fraturado e se estabeleceu bem como um produto inteiro. Em uma análise isolada, o que temos em mão é uma animação muito bem feita e instigante de se assistir.
Ainda sim, ela não é desprovida de problemas. O maior deles é que da forma como está sendo apresentada ela perde completamente qualquer ligação com Watchmen. Mais uma vez um leigo não entenderia o produto que detêm. E o que é pior, Contos do Cargueiro Negro nunca foi escrito para ser uma narrativa independente, pois ele é em suma, uma analogia da trama que permeia toda obra. O Capitão, exatamente como Veidt, é um homem que se encontra isolado de seu mundo, e que comete uma série de atos atrozes na busca para salva-lo da destruição certa. Os dois retratam temas semelhantes e colocam dúvidas sobre a dimensão das linhas que separam o bem e o mal, e como é fácil cruza-las a partir de atos de heroísmo. O Capitão tem uma fala final que efetivamente resume o personagem de Adrian Veidt, “intenções nobres me levaram a cometer atrocidades”. Obviamente, este defeito deverá ser corrigido na prometida grande montagem em Blu-ray que será realizada, onde dificilmente esta crítica permanecerá.
Sob o Capuz
Com o dobro de tamanho da animação, o documentário fictício tem sido imensamente aguardado pelos fãs de Watchmen (alguns até mais do que o filme). A idéia por trás do mesmo é conseguir colocar todas as informações, que apareciam no final dos primeiros números da série como trechos da biografia de Hollis Manson (o primeiro Coruja), em um programa de TV que teria feito uma entrevista com o autor na época de seu lançamento. Mas afinal, será que a espera valeu a pena?
O documentário é muito interessante e bem feito. O anfitrião é um apresentador bastante típico, que em 1985 resolve fazer uma revisão de seu próprio programa, este de 75, onde ele entrevistava Manson, na época de lançamento de seu livro, Sally Júpiter, o Comediante e outros.
Os diversos tempos se entrecruzam no documentário, constituindo uma dinâmica visual bastante original. Temos cenas em preto e branco dos anos 40, passando por diversas décadas até chegarmos nos anos 80, todas bastante afinadas com o tom de sua época. As filmagens estão bem autênticas e os personagens são críveis, assim como seu envelhecimento progressivo.
Um grande fator de importância são as diversas referências a cenas, locais e personagens da HQ que receberam pouco destaque no filme. Assim como os comerciais, que são bastante climáticos, vale citar aqui a excelente e brega chamada do perfume de Adrian veidt, Nostalgia, que é de grande importância referencial na série.
A história dos Minutemen é narrada em todos os seus pormenores, e a situação política do lugar é comentada por personagens ilustres: Lawrence Shexnyder (agente e marido de Espectral), William Long (o psicólogo), Bernard (o cara da banca), Wally Weaver (assistente de Manhattan), Joe (o bartender do bar que é destruído), enfim, os personagens humanos da HQ que fizeram falta no filme. Todo o conteúdo colocado por Alan Moore em “Sob o Capuz”, parece ter conseguido ver a luz nesse pequeno documentário, assim como coisas novas, como a entrevista com Moloch onde ele prevê o surgimento de um grande antagonista a Manhattan.
Não consigo imaginar este pequeno filme, inserido dentro da obra original, ele me parece por demais fechado para isso. Mas, se o mesmo fosse exibido imediatamente antes do longa, com certeza ele seria responsável por diminuir alguns dos defeitos do mesmo. Talvez não fosse o suficiente para redimi-lo como filme, mas certamente adicionaria um pouco mais de conteúdo e colocaria mais relevância na destruição de Nova York.
O DVD será lançado aqui no Brasil pela Paramount no dia 27 de Abril ( ainda que a festa de lançamento do produto seja no dia 3 de maio), e como tudo indica que a versão totalmente completa do filme (como os dois extras e mais quarenta minutos de filmagem, totalizando quatro horas de filme) sairá apenas em Blu-ray, o mercado brasileiro sairá perdendo mais uma vez. Tendo em vista que o DVD do filme, com previsão para Agosto, não virá com estes maravilhosos extras, o produto aqui resenhado é uma boa compra para todos os fãs.
Hein!?, O DVD completão não vai vir para cá? Que #$%%@! Pelo menos esse aí dá para quebrar o galho…
Olha, não posso afirmar isso. O Snyder anunciou que a versão bizarra de quatro horas irá sair para blue ray lá fora…. E aqui ainda não temos mercado de blue ray, mas vale lembrar que os discos azuis são a mesma região para a américa toda, então os de lá servem por aqui….