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Retrospectiva 2013: Os melhores filmes que vi este ano

popcorn, red, background, clapperboard

O cinema em 2013 continuou mostrando o seu melhor quando jogava luz para os acontecimentos político-sociais do mundo. Não foi à toa que “Argo” venceu o Oscar 2013 e “Azul é a cor Mais Quente”, a Palma de Ouro em Cannes. Mais do que transformações, essa vertente se apoiou em ilustrar a percepção universal do indivíduo com seu meio. E seu tempo. O melhor filme de 2013 apontou que o umbigo é geracional, ou seja, não subestime o presente, mesmo diante da urgência do futuro.

FRANCES HA

Minha relação com o cinema é de amor extremo, entretanto com o distanciamento que esse sentimento racionalmente pode impor. Dificilmente “me identifico” com personagens ou discursos. Justificando essa relação, encontramos a obra-prima Frances Ha, filme do vigoroso diretor americano Noah Baumbach (superando o badalado A Lula e a Baleia) que parte da busca por mimetizar um retrato de uma geração sem se auto imbuir de uma demarcação discursiva. Noah faz um filme que defende sua espontaneidade pela delicadeza, seu naturalismo pela organicidade e sua verborragia por sua pertinência. Situar esse universo numa NY contrastada pela fotografia em preto e branco, resulta numa poética irresistível, assim com a protagonista Greta Gerwig (também co-autora do roteiro, com o diretor, seu namorado) que capta à sua verdade toda a complexidade do que chamarei aqui de “carisma indie”. Frances Ha tinha tudo para cair no clichê de sua pretensão, seja como discurso, seja como cinema. Mas o diretor, por estar mais interessado na expectativa, deixa que seu filme fale sobre rumos, e a melancolia implícita em sua áurea cool reflete até o pragmatismo de uma cidade como NY: onde a grandeza se constrói de vazios sedutores e barulhentos. E é nessa busca que a juventude se molda. Frances passa o filme vivendo a desventura de moldes e rumos. Impossível não se identificar. E eu me identifiquei violentamente… Sem dúvida nenhuma, já na prateleira dos filmes da minha vida. O melhor de 2013!!!

O LADO BOM DA VIDA

Para compreender as artimanhas de O Lado Bom da Vida é bom recorrer a Nietzsche que dizia “há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura“. Enxergar essa frase como paradoxo é não entendê-la. Trata-se de um dos melhores filmes recentes justamente por trazer em si contradições de discurso para subvertê-las. O roteiro enquadra o impacto desses ricos personagens em suas inadequações, numa estrutura narrativa corriqueira e toda caminhada para um final clichê. Desse encontro nasce sua dignidade como cinema, uma vez que a humanidade apresentada (e de todos, incluindo aí os pais de Pat, Bradley Cooper ) suplantam o arquétipo e a caricatura da situação. E tem Jennifer Lawrence, a atriz mais interessante de Hollywood, desde… Nem lembro…

A CAÇA

Somos vulneráveis. Ao fim do impactante A Caça temos essa certeza de forma um tanto dolorosa. O diretor Thomas Vinterberg, outrora entusiasta do Movimento Dogma 95, faz seu melhor filme retratando os desígnios e as contradições do convívio social em seus próprios arquétipos orgânicos. A tensão da não-culpa e a radicalização do implícito, trazem um gosto amargo do que é ver sua vida na mão de intentos até então inocentes. Gosto amargo é pouco após o fim da sessão.

GRAVIDADE

O excepcional de Gravidade reside no deslumbramento de seus efeitos. Dramaturgicamente um filme simples, mas dramaticamente um filme arrasador. O diretor mexicano Alfonso Cuarón faz da ideia de gravidade uma alegoria para a observação do humano pelo próprio homem. E o faz com um deslumbre visual que só amplia a capacidade do cinema de nos transportar para outra dimensão. Até de nós mesmos.

AZUL É A COR MAIS QUENTE

E tudo o que é mais explícito no ótimo Azul é a Cor Mais Quente, do diretor Abdellatif Kechiche, o mais perturbador é sem dúvida a propriedade do amor, frente aos descaminhos de dois seres ainda em formação emocional e afetiva. O diretor é implacável na contundência dessa amostragem. O que é o desejo? O que é o sexo? O que até sua orientação sexual? Nada disso tem importância quando confrontadas pela passionalidade do encontro e suas implicações. O amor ainda é a imagem mais imoral do cinema. E isso é bom demais!

A HORA MAIS ESCURA

A Hora Mais Escura é um filme pertinente ao momento político do mundo. Mas, diferente do filme anterior da diretora Kathryn Bigelow, o fraco “Guerra ao Terror”, esse constrói narrativamente a personalidade de sua protagonista – Jessica Chastain arrasadora – em confronto com a urgência (muitas vezes, demovida de ética) de uma América desesperadamente em busca de uma catarse chamada Osama Bin Laden

TABU

Há quanto tempo não somos provocados pelo cinema? Talvez, venha dessa indagação (e de um Portugal afundado em todo tipo de crise) que Tabu se justifique e se coloque como um dos mais interessantes exercícios fílmicos dos últimos anos. Sua proposta é pessoal, social e universal. Seu resultado é simplesmente a reflexão sobre a soma desses três foros. Filmaço!

BLUE JASMINE

Woody Allen se valendo do sadismo para expor sua América em crise, através de uma Cate Blanchett tão possuída de controvérsia e humanidade que o cinismo do autor traz para o indivíduo toda a representatividade de uma mesma sociedade. Quem disse que Woody Allen andava aquém de sua história???

CAPITÃO PHILLIPS

É pelo completo e invejável domínio narrativo do diretor Paul Greengrass que Capitão Phillips se impõe como um blockbuster de rara coesão cinematográfica, complexidade humanística e principalmente refino pungente de um fato real, num dos filmes mais tensos da história do cinema. E seus 20 minutos finais é uma aula de atuação de um Tom Hanks nas raias da perplexidade…

O SOM AO REDOR

Falar sobre sociedade brasileira é falar sobre a complexidade explícita na relação entre dominantes e dominados. O êxito vital do diretor Kleber Mendonça é fazer de seu filme um exercício de aguda observação. Assim, seus efeitos são tão inevitáveis quanto reveladores. Um dos melhores filmes nacionais já feito.

Fora os 10 mais destacados, vale lembrar alguns outros que dignificaram o amor pela sétima arte como “Rush – Sem Limites”, “Argo”, “Amor”, “Tatuagem”, “Elena”, “Indomável Sonhadora”, “Amor Bandido”, “Killer Joe” (esse incluído nos dez melhores do ano passado, mas só lançado oficialmente no Brasil esse ano), “Jogos Vorazes – Em Chamas”, “Guerra Mundial Z”, “Os Suspeitos”, “Invocação do Mal”, “Bling Ring”, “O Lugar Onde Tudo Termina”, “Antes da Meia Noite”, “O Voo”, “O Impossível”, “Django Livre” entre muitos outros.

 

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