Park Chan-Wook desabrochou para o mundo com o impactante Oldboy e logo ficou conhecido pela estética do grafismo. O cineasta sul coreano tem fixação por expor seus personagens aos extremos psíquicos e gráficos de suas engenhosas tramas. Funcionou efetivamente em sua trilogia da Vingança, principalmente por amparar a desolação desses extremos com a humanidade de seus elementos. Em sua estreia como diretor no cinema americano, Park deixa-se levar apenas pela estetização do que se propõe. Segredos de Sangue é cinematograficamente lindo.
Escrito por Wentworth Miller (o Michael Scofield da série de de TV Prison Break), em colaboração com Erin Cressida Wilson (Secretária), o longa narra a perturbadora jornada de auto descoberta de India Stoker (Mia Wasikowska, ótima), jovem que perde seu pai (Dermot Mulroney) no dia do seu aniversário de 18 anos em um estranho acidente. Deixada com sua instável mãe, Evelyn (Nicole Kidman), ela então conhece seu tio Charlie (Matthew Goode, interessantíssimo), charmoso irmão de seu pai, e um parente do qual jamais tinha ouvido falar. Aos poucos, este homem aparentemente comum acaba trazendo à tona um lado de India que ela mal conhecia.
Bem fotografado e com uma direção de arte personalizada, o longa peca pela dramaturgia irregular. Seus personagens ressentem-se da falta de humanidade. É como se eles estivessem ali só à serviço de uma argamassa imagética. A própria personagem de Nicole (que, diga-se de passagem, está muito bem em cena) fica perdida lá pelo meio e parece que foi criada mais para estabelecer um vértice materno da obsessão principal, sem tanto caminho próprio. Isso se reflete na própria estrutura narrativa que por mais que caminhe para um clímax até bem honesto, deixe aparente pontas soltas demais para um filme do calibre de Chan-Wook.
Como exercício estético, o filme é um deleite de belas artes, mas como cinema é bem mais que enquadramentos criativos, faltou aqui mais embasamento no roteiro e verossimilhança em quem o justifica.
[xrr rating=3/5]
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