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"Shazam!" usa o bom humor para espantar de vez a má fase da DC no cinema

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Com o crescimento cada vez maior do sucesso das adaptações dos quadrinhos da Marvel no cinema, a DC Comics decidiu correr atrás do tempo perdido e resolveu criar seu próprio universo, com o apoio da Warner Bros., estúdio responsável por algumas das melhores versões de seus personagens para a telona, como “Superman – O Filme” que imortalizou Christopher Reeve como a melhor versão do maior herói até hoje (desculpe, fãs de Henry Cavill), e as aventuras de Batman, principalmente as dirigidas por Tim Burton e Christopher Nolan.

Só que nada parecia dar muito certo, já que nem “O Homem de Aço”, “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça” e, principalmente, “Liga da Justiça” (todos comandados por Zack Snyder) ficaram bem longe de alcançar o resultado esperado pela Warner, enquanto o Universo Cinematográfico da Marvel ia de vento em popa, emplacando verdadeiros hits como “Pantera Negra” (primeiro filme de heróis a ser indicado a Melhor Filme no Oscar), “Vingadores: Guerra Infinita” e, mais recentemente, “Capitã Marvel”, que preparou o terreno para mais que aguardado “Vingadores: Ultimato”, que promete ser um dos maiores sucessos de bilheteria de 2019.

No entanto, a DC/Warner não fracassou completamente com os seus planos, já que, por incrível que pareça, as adaptações cinematográficas de seus heróis não tão famosos em aventuras solo conseguiram alcançar seus objetivos. Embora “Mulher-Maraviha” não seja uma completa estranha para o grande público, o resultado obtido pela diretora Patty Jenkins foi um grande salto de qualidade, que se refletiu na boa bilheteria. A surpresa maior, no entanto, veio com “Aquaman”, que conquistou parte da crítica e uma venda de ingressos de mais de US$ 1 bilhão de dólares mundialmente e tirou do público a impressão de que o herói submarino era desinteressante e que, nas mãos certas, poderia render o suficiente para chamar a atenção.

Mas faltava alguma coisa para sepultar de vez aquele clima pesado e desconfortável que Snyder criou lá atrás, para mostrar que a
DC/Warner pretende seguir em frente com uma nova proposta, mas que ainda abraça alguns elementos que deram certo. Ao que tudo indica, “Shazam!” (Idem, 2019) é o filme para deixar claro que, sim, ainda é possível adaptar os heróis do universo DCnauta com uma boa mistura de ação e humor que não perde de vista as principais características do herói e vai agradar a todos os públicos (embora os mais puristas possam torcer o nariz).

A trama é centrada no jovem Billy Batson (Asher Angel), um adolescente que pula de um lar adotivo para outro, enquanto busca pistas do paradeiro de sua mãe desaparecida há anos. Ele acaba sendo acolhido por Rosa (Marta Milans) e Victor Vasquez (Cooper Andrews), que também abriga outras crianças, como Freedy Freeman (Jack Dylan Grazer), Mary Bromfield (Grace Fulton), Eugene Choi (Ian Chen), Pedro Peña (Jovan Amand) e Darla Dudley (Faithe Herman).

A vida de Billy muda completamente quando ele é escolhido pelo mago Shazam (Djimon Hounson) para ser o seu Campeão da Eternidade e passa para ele os seus poderes. Assim, toda vez que Billy diz o nome do mago, ele se torna uma versão adulta e mais poderosa de si mesmo (interpretada por Zachary Levi). Com a ajuda de Freddy, Billy tenta aprender a lidar com sua nova identidade, ao mesmo tempo que precisa encarar o Dr. Thaddeus Silvana (Mark Storng), que fará de tudo para obter os seus poderes.

Sem esconder que sua principal inspiração é o reboot nos quadrinhos conhecidos como “Os Novos 52”, capitaneado por Geoff Jones e Gary Frank em 2012, “Shazam!” apresenta uma versão do herói (anteriormente conhecido como Capitão Marvel, mas que teve que mudar o nome após uma batalha judicial) mais divertida e até mesmo infantilizada (afinal, é uma criança que ganha superpoderes de uma hora para outra, mas mantém a mente juvenil), mas que cativa por sua extrema simpatia e carisma.

Um dos principais responsáveis por isso é o diretor David F. Sandberg, que trabalha muito bem os elementos humorísticos, dramáticos e até mesmo os de terror. Afinal, o cineasta era mais conhecido por dar sustos em seus filmes anteriores, como “Anabelle 2: A Criação do Mal” e “Quando as Luzes se Apagam”, e aqui há pelo menos dois momentos que podem assustar bastante os espectadores mais jovens e seus pais. Mas o que se destaca mesmo é a ótima mistura de humor e ação, que certamente deixará o público em êxtase. Só as cenas envolvendo Billy descobrindo seus poderes ao lado de Freddy são suficientes para fazer todo mundo ficar com um grande sorriso nos lábios e rir sempre quando se lembra delas.

O roteiro escrito por Henry Gaden também merece destaque por desenvolver bem os personagens principais e criar boas piadas, além de preencher a trama com easter eggs para deixar claro que o universo onde acontece a trama não está descolado dos outros filmes, mesmo os que não deram certo.

A motivação do vilão pode ser um dos calcanhares de Aquiles do texto, por parecer um pouco genérica. Em compensação, ele é mostrado como uma pessoa ressentida por problemas relacionados ao seu passado, que são responsáveis pela formação de seu caráter. Ou seja, Silvana não é tão superficial quanto outros caras maus do universo DC e se mostra um bom adversário para o herói.

O script peca, no entanto, na sua parte final, onde estende além da conta o epílogo com muitas batalhas. Algo que, aliás, é o problema de todos os filmes desta nova fase da DC/Warner.

No elenco, o principal destaque vai mesmo para Zachary Levi, que se sai muito bem tanto em mostrar o lado heroico de Shazam quanto também (e principalmente) com a faceta zombeteira do herói, já que o ator, mais conhecido por sua atuação na série de TV “Chuck”, é um craque na comédia e, aqui, ele tem espaço e material para se esbaldar.

Mark Strong, que se especializou em fazer vilões ao longo de sua carreira em filmes como “Robin Hood”, “Kick-Ass: Quebrando Tudo” e no malfadado “Lanterna Verde”, dá o peso necessário para as vilanias e as obsessões do Dr. Silvana (Sivana, no original), mesmo lidando com questões do roteiro que não o favorecem.

Entre as crianças, todas muito bem, os destaques vão para Jack Dylan Grazer, que já tinha sido visto em “It: A Coisa” como um dos meninos que enfrentam o palhaço Pennywise. O garoto mostra bastante talento tanto nas cenas mais cômicas, onde bate uma bola redonda com Levi, quanto nas mais densas, em que precisa lidar com algumas limitações impostas pela vida.

Asher Angel também está bem como Billy Batson, mas nem sempre dá a leveza necessária para que possamos identificar semelhanças entre ele e seu alterego super poderoso. Apesar dos pesares, ele marca presença, assim como a pequena Faithe Herman, que esbanja carisma e fofura como a caçula da família, Darla. Já Grace Fulton pouco tem a fazer como Mary e isso surpreende porque sua personagem é muito importante para o protagonista nos quadrinhos.

Com uma parte técnica impecável, principalmente nos efeitos especiais, “Shazam!” se revela um ótimo achado para a DC/Warner e cumpre o que prometia desde os primeiros trailers que foram divulgados: uma aventura leve e divertida (mesmo com alguns poucos momentos mais pesados), que reapresenta para o grande público um herói clássico em sua versão mais cômica, mas que não ofende a sua gênese, e que deixa todo mundo empolgado com o que apresenta no fim das contas. Ainda mais com uma das duas cenas pós-créditos que mostra para onde pode ir a jornada do Mortal Mais Poderoso da Terra.

Mesmo não sendo superior a “Mulher Maravilha”, certamente é o filme mais simpático e empolgante deste universo em reconstrução. E que o poder da palavra mágica seja capaz de encantar ainda mais num futuro não muito distante.

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