Aviso: Este artigo contém detalhes da trama do filme.
Na pequena cidade de Cold Rock, os moradores vivem atormentados pela lenda urbana conhecida como “the tall man” (ou “o homem alto”, em tradução livre), figura responsável pelo desaparecimento de grande parte das crianças da cidade.
O que chama atenção neste filme de Pascal Laugier (também conhecido por “Martyrs”) são os mistérios que assumem um crescendo de complexidade segurando o fôlego do espectador até o último momento em que finalmente soluciona toda a trama. Portanto, sugiro que o leitor assista ao filme antes de ler esta resenha, pois é impossível falar da capacidade de “The tall man” de fisgar inescapavelmente a nossa atenção sem revelar as façanhas de seu enredo perturbador.
A narrativa é feita por Jenny (interpretada por Jodelle Ferland, também conhecida por “Silent Hill” e “Caso 39”), uma das crianças de lar conturbado, que vai revelando os fatos com a sutileza de quem detém um segredo singelo e, ao mesmo tempo, assustador. Ela aparece aqui e ali na história e sua importância para o enredo permanece um tanto indefinida antes do fim.
Julia Denning (Jessica Biel) é a enfermeira cujo marido, médico famoso na cidade, é introduzido na história já falecido e a causa para tal não é mencionada, sequer é questionada ou mostra-se de interesse para as personagens, o que já alude a uma possível faceta do enigma essencial. Julia é a personagem central cujo arco irá se desenvolver de maneira surpreendente, despertando uma gama de percepções diversificadas e controvertidas na cabeça do espectador.
Ela aparece com “seu” filho David (Jakob Davis) a quem demostra carinho e dedicação até que numa madrugada se vê uma possível vítima da lenda urbana que assombra a região. David é levado por um vulto não identificado, que Julia persegue admiravelmente sem hesitar.
A tensão aumenta quando somos levados a questionar se não existe um complô dos moradores contra Julia quando esta aparece desamparada e machucada no bar da cidade. Mas é aí que o primeiro twist transforma a enfermeira boazinha na vilã. Julia não teve seu filho sequestrado e sim resgatado de seus braços pela verdadeira mãe.
Após ser presa e revelar-se ser o mal que aflige os pais da cidade, Julia deixa esmaecer a máscara atrás da qual escondia uma ideologia relativamente fácil de conceber: as crianças são a única esperança deste mundo em declínio e seus sonhos e credulidade devem ser cultivados como única chance de restauração para a humanidade. Até aí, tudo bem, mas a questão polêmica levantada é o fato de este ideário suscitar em Julia o espírito justiceiro de retirar crianças de seus lares desfeitos, miseráveis ou sem a devida educação parental para entregá-las a pais dignos e “ideais”.
Após o desenlace do mistério na cidadezinha, surge o marido de Julia, cuja morte havia sido forjada, e cumpre sua última missão junto a esposa entregando Jenny, nossa narradora, a uma mãe adotiva. Quando estamos prestes a explicar o enigma com a possibilidade de um tráfico de crianças, somos desarmados com a premissa de que Jenny foi a última criança a ser salva por Julia, o que dipensa qualquer retribuição financeira.
Jenny, por ter mais idade que a média das crianças que eram raptadas, foi a única que curiosamente buscou seu próprio desaparecimento de Cold Rock para encontrar um novo lar. Desta forma, encerra sua narrativa, pensando em Julia e no fato de não poder dintinguir seu caráter, preservando a dualidade que se fez presente em todo o filme.
Sem dúvidas, esse thriller, diferente de outros do gênero, consegue ser instigante para muito além do suspense e nos deixa intrigados mesmo depois da resolução de sua trama.
[xrr rating=4/5]
Belíssimo comentário! Parabéns!