Ridley Scott é um incansável operário do cinema. Sua habilidade técnica o justifica, ainda que tamanha produtividade não se configure em qualidade artística. Mas sobretudo, ele ainda é Ridley Scott. Isso tudo para dizer que mesmo que Todo Dinheiro do Mundo não esteja no panteão de seus melhores filmes, ainda guarda em si muita de sua integridade cinematográfica.
Baseado no livro de John Pearson, a trama reconta o sequestro do neto do então considerado o homem mais rico do planeta, Paul Getty (Christopher Plummer, brilhante). O sequestro acontece na Itália, e os bandidos pedem um alto valor, condizente com a condição do patriarca. Só que Getty é conhecido por ser um sovina incurável, e se recusa a dar qualquer centavo para o resgate. Enquanto sua nora (Michelle Williams) tenta manter a negociação pela vida do filho, o bilionário recorre a seu conselheiro e ex-agente do FBI (Mark Wahlberg), para tentar uma maneira com que o neto seja libertado sem afetar o seu bolso. Não dá para não comentar o fato de Plummer ter substituído o ator Kevin Spacey, após as acusações de assédio.
Toda a trama gravita em torno do personagem, da qual Plummer dá um banho de interpretação, até pela nuance que o justifica entre a rudeza fria e a humanidade complexa que vão oscilando ao longo dos acontecimentos.
O roteiro, de David Scarpa, não se decide bem entre o thriller e o drama familiar, resvalando para os personagens toda a importância da trama. Isso por vezes afeta o ritmo de uma história que às vezes parece ter um distanciamento dramático excessivo, em meio ao surrado jogo de pistas falsas e uso da tensão como escapismo emocional. Mas como bom operário do ofício, Scott domina a gramática cinematográfica e tem meticulosidade na construção do todo de seu filme. Tanto a interpretação de Plummer, quanto o meio que o cerca (destacado por uma fotografia soturna) dão dimensão para a história, mesmo que fronteiriço à sua irregularidade.
Pelos aspectos que saltam desses êxitos – o poder do dinheiro sobre um indivíduo e como isso vira quase uma patologia – Todo o Dinheiro do Mundo fica na linha tênue da simples diversão e da reflexão sociológica de seus termos.
Comente!