A franquia Velozes & Furiosos, uma das mais rentáveis do cinema atual sobretudo no mercado internacional (com Brasil, China e Rússia à frente) já vinha expandindo seus limites para além do mote original, os rachas de carrões. Se por um lado as corridas clandestinas foram ficando em segundo plano a cada episódio, as tramas absurdas dignas de James Bond na fase Roger Moore foram perdendo cada vez mais a vergonha. Desde a retomada da série com o elenco original em Velozes & Furiosos 4, novos personagens foram sendo incorporados e dois deles ganharam destaque: os agentes rivais Luke Hobbs e Deckard Shaw. E eis que os dois ganharam um spin off, Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw.
O filme coloca o policial Luke Hobbs (Dwayne Johnson) e o agente exilado Deckard Shaw (Jason Statham) formando uma improvável aliança quando um vilão geneticamente melhorado ameaça o futuro da humanidade. Para isso, eles contam com a ajuda de Hattie (Vanessa Kirby), irmã de Shaw, que é também agente do MI6, o serviço secreto britânico.
Hobbs & Shaw peca pelo excesso, sem nenhum medo de julgamentos. Furos narrativos? Cenas estapafúrdias que desafiam qualquer lógica? Diálogos clichês? Tem tudo isso. Mas com personalidade e um espírito assumido de entretenimento descompromissado. Nesse ponto, o longa assinado por David Leitch (de Atômica, John Wick: De Volta ao Jogo e Deadpool 2) vai mais longe do que a franquia que o originou. E essa descontração é que atribui a esse derivado um potencial para se converter em uma nova série.
É claramente um filme veículo tanto para Johnson quanto para Statham, que assinaram como produtores executivos. E fica claro também que eles se divertiram muito fazendo. A cena, logo no início, que mostra o começo do dia de cada um ao mesmo tempo, com a tela dividida, já deixa estabelecido que o intuito era ser uma hora do recreio entre Velozes 8 e o 9. As piadas e farpas trocadas entre os personagens também evidenciam esse espírito.
O longa é inegavelmente influenciado pelos filmes de ação descerebrados dos anos 80, mais especificamente aqueles em que uma dupla de policiais de temperamentos opostos e que não se bicam devem trabalhar juntos. “Hobbs & Shaw” remete principalmente à pérola “Tango e Cash: Os Vingadores”, com Sylvester Stallone e Kurt Russell. É saudável que esse cinema popular de três décadas atrás seja revisitado de vez em quando para quebrar o esquematismo de que o gênero se tornou refém hoje.
As atuações se apoiam no carisma de Johnson e nos maneirismos de Statham. E não esperávamos mais do que isso. Assim como o caricato vilão de Idris Elba cabe como uma luva como antagonista da dupla. E o melhor mesmo são as cenas de ação. Para quem se entusiasmou com a pegada absurda de Velozes 8, esse aqui é uma boa pedida. O automobilismo fica ainda mais de lado do que tem estado nos últimos filmes da matriz. Apenas no final há uma menção a um elemento clássico da série.
“Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw” também serve para solucionar uma possível ausência de Johnson dos filmes principais, já que sua relação com Vin Diesel se tornou insustentável. No mais, o filme funciona satisfatoriamente dentro de sua proposta. Levando-se em conta a natureza nefasta dos spin-offs, esse aqui não deixa de ser uma grata surpresa em sua honestidade, tendo sempre a descontração a seu favor.
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