Resenha – Castlevania: Lords of Shadow

Resenha - Castlevania: Lords of Shadow – Ambrosia
Plataforma: PS3, Xbox 360
Gênero: Action-Adventure
Selo: Konami
Desenvolvedora: Mercury Steam
Lançamento: 5 de Outubro de 2010

Castlevania: Lords of Shadow é um novo sopro de vida para esta clássica franquia da Konami, vale dizer muito bem vindo. A primeira impressão que tiramos deste jogo é que se trata de mais um clone de God of War (como Dante`s Inferno da EA), algo que rapidamente percebemos ser equivocado. Em verdade, o novo Castlevania é certamente um jogo onde claramente podemos notar um caldeirão de influências distintas, e elas são tão claras (ainda que diversas entre si) que poderíamos dizer que nos defrontamos com uma espécie de Frakenstein do mundo dos games. Felizmente, no caso de Lord of Shadows, todas as partes parecem funcionar muito bem, conseguindo interagir umas com as outras a ponto de parecer algo único e coeso.

Iremos agora destacar apenas algumas destas influências, para o caso do leitor se interessar em saber se existem elementos dos seus jogos preferidos neste fantástico action-adventure. Não há como negar que as mecânicas de combate sejam dominadas por God of War, principalmente o aspecto estético e mecânico do chicote de Gabriel Belmont e na câmera fixa. Já a lógica deste mesmo combate, em alguns momentos tem muito de Demon’s Souls, onde a defesa e a esquiva se fazem mais importantes do que o ataque per se, a influência do difícil game da Atlas também transparece em outros aspectos do jogo, como a estética e principalmente a aquisição dos itens. As três lutas contra Titâs no jogo, recriam de forma belíssima e inteligente a obra prima de PS2 Shadow of the Colossus. Outra importante citação que não poderíamos esquecer está em Prince of Persia, já que muitos dos momentos de plataforma do jogo se assemelham muito as escaladas apresentadas na trilogia “Sands of Time”.

Resenha - Castlevania: Lords of Shadow – Ambrosia

Mais uma vez devo reforçar que apesar ter um pouco essa característica de colcha de retalhos, no fim, Castlevania: Lords of Shadow se mostra único justamente pela combinação harmônica destes elementos tão distintos.

Enredo

As resenhas que apontam que o novo Castlevania não tem muita ligação com a história da série, não jogaram o jogo até o final. Não vou estragar nenhuma surpresa por aqui, mas ele acaba sim por se inserir na mitologia da franquia (que nunca teve uma história muito corente) inclusive como o primeiro jogo em ordem cronológica, situado em uma bizarra idade média. Ao mesmo tempo, apesar dele conter um final que supostamente seria capaz de se atrelar ao “canône” dos demais Castlevanias ele também funciona muito bem sozinho, e pode ser tido como um excelente reboot para toda a série.

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Em Lords of Shadow acompanhamos a jornada de Gabriel Belmont, um Cavalheiro da Irmandade da Luz (Brotherhood of Light) que supostamente é a chave de uma profecia que irá limpar a terra dos Lordes das Sombras. Ainda que a esperança de seus irmãos repouse no sucesso da jornada de Gabriel, o cavalheiro viaja buscando um fim bem menos altruísta: ressuscitar sua falecida esposa. Algo que supostamente é possível de ser feito uma vez que ele consiga reunir os pedaços de um poderoso artefato conhecido como a “Máscara de Deus”, atualmente sob o domínio de cada um dos três poderosos Lordes.

A história é bem desenvolvida durante o jogo, e os personagens secundários são críveis e interessantes. Vale dizer que um dos grandes fatores que ajudam a narrativa de Castlevania é a incrível direção artística, que transparece tanto nos ângulos escolhidos para as cenas quanto nas performances maravilhosas dos dubladores.

Castlevania: Lords of Shadow possui o melhor e mais original roteiro de um jogo da série, o que não quer dizer muita coisa necessariamente, já que os antigos Castlevanias nunca primaram por esta característica e costumavam a repetir a exaustão a formula de “Jornada para matar o Drácula”. Dito isso, é uma fantástica aventura clássica sem muitas pretensões filosóficas ou de profundidade emocional, o que não é nenhum problema já que ele faz o seu básico de maneira muito legal.

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Vale dizer, por mais que eu goste de jogos japoneses, achei legal a Konami deixar uma empresa espanhola (no caso a Mercury Steam) desenvolver o jogo. Acho que a história (que se passa em uma Europa Mítica) me pareceu menos deslumbrada e bizarra no que concerne alguns dos mitos fundamentais do Ocidente, como as religiões abrâmicas, quase sempre utilizadas de forma estranha por escritores orientais. E o foco em um personagem católico me parece funcionar de maneira mais natural quando os roteiristas e produtores advêm de um país católico ao contrário das produções estadunidenses que geralmente reproduzem esta cultura como algo místico e estranho, ainda que isto não seja nem de longe particularmente importante para o jogo. Já que ele modifica completamente a história do mundo ao inserir as guerras necromânticas que teriam dividido uma parte do território europeu entre três grandes lordes.

Apresentação

O novo Castlevania é um dos jogos mais belos desta última geração de games, ficando de igual para igual com outros campeões como God of War 3 e Uncharted 2. As tomadas e cenários apresentados pelo game transparecem uma grandeza avassaladora e apoteótica, digna da jornada que foi imposta a Gabriel Belmont. O design desses locais fantásticos foi pensado com muito bom gosto e é capaz de espantar o jogador pelos seus detalhes e nuances.

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Certamente outro aspecto positivo foi a volta a cenários mais amplos, como os jogos clássicos da franquia, que não se passavam inteiramente dentro de castelos (algo que foi modificado no excelente Simphony of the Night, que é muito chupado de Super Metroid e por isso o gênero “inaugurado” por ele é até hoje chamado pelos fãs de Metroidvania). Em Lords of Shadow, somos levados a transitar por dezenas de cenários completamente diferentes: de florestas verdejantes, até desertos bizarros. Vale dizer, o castelo deste jogo, é uma belíssima construção gótica com locais muito distintos dentro dele, o que possibilita que passemos horas nas fases que estão neste capítulo do jogo sem sentir qualquer tipo de repetição.

Um destaque visual importante está nos personagens apresentados. Não só os modelos são muito bem animados e detalhados, mas também nos dão impressões de características pessoais críveis que contribuem muito para nossa imersão na trama do jogo. Os monstros em particular continuam variados e muito bem feitos. Devo dizer que o mundo do jogo, e a forma como estas criaturas aparentam me lembra muito o cenário Ravenloft (do RPG Dungeons & Dragons), o que é excelente. Parece existir um visual clássico subjacente a todas as novas escolhas no design das criaturas, o que as tornam familiares e ao mesmo tempo surpreendentes.

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Por fim, tenho que dar aqui um grande destaque ao som do jogo. A música é excelente, contando com belíssimas composições orquestradas, que muito sutilmente inserem alguns temas clássicos, como se evocados a distância, em uma etérea melodia de tempos passados. O importante de se dizer é que estas novas composições dão o tom certo ao jogo, e variam muito, acompanhando o espírito de diversidade dos diferentes cenários apresentado por Castlevania.

Uma das coisas que mais chamam a atenção em Lords of Shadow, são as dublagens dos personagens, todas muito bem realizadas. O grande destaque tem que ir para Patrick Stewart (O Xavier de X-men e o Pickard de Star Trek), que empresta sua bela voz para dar vida a Zobek, um membro mais velho da Irmandade da Luz que ajuda Gabriel em sua missão. Antes de cada uma das fases, iremos nos deparar com um texto sendo lido por esta poderosa voz, e a leitura é tão bem feita e climática, que todas as vezes eu me senti na obrigação de esperar o Patrick Stewart terminar de falar para começar o jogo (já que é possível de se ler bem mais rápido do que ele fala).

Jogabilidade

Neste aspecto começamos a encontrar os primeiros defeitos de Castlevania: Lords of Shadow. O primeiro e mais importante deles é sua câmera fixa. A franquia God of War é uma boa amostra de que é possível se fazer um bom jogo em 3D com câmera fixa sem que ela atrapalhe sua jogabilidade. Ainda que o primeiro jogo da série de Kratos sofresse de alguns problemas com ângulos ruins de câmera, este tipo de defeito foi verdadeiramente consertado nos títulos subseqüentes. Castlevania, apesar de possuir uma influência clara do jogo de Hack and Slash Grego, não consegue atingir a excelência que o estúdio Santa Monica atingiu ao implementar a câmera fixa em sua trilogia. Em muitos momentos esta parece ser o verdadeiro vilão do jogo, pois nos atrapalha em saltos, ao enfrentar monstros e ao procurar itens. Não é algo que acontece o tempo todo, ou que quebra completamente o jogo, mas é chato o suficiente para atormentar o jogador em diversas partes mais chatas do título.

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Outro problema é que falta um pouco de finesse aos comandos. Gabriel é naturalmente muito rápido, algo que atrapalha nas seqüências que exigem precisão e poucos passos para escapar de um perigo. De forma geral os controles poderiam ter sido mais bem trabalhados. São inúmeros saltos onde Gabriel, por algum motivo desconhecido, simplesmente não agarra nas plataformas ou acaba caindo mais longe do que deveria.

O combate já me parece excelente e não sofrer de muitos problemas. Ainda que nas fases iniciais ele passe a falsa impressão de ser um button smashing só, em pouco tempo fica claro que ele é ainda mais difícil e refinado do que aquele mostrado no jogo de Kratos. Isso ocorre porque conforme avançamos os adversários se tornam mais inteligentes e perigosos, obrigando a você a ficar quase o tempo todo na defesa, algo que se faz absolutamente necessário para sobreviver.

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Devo mencionar que gosto muito da idéia de ao invés de ter um ataque forte e um ataque fraco, o chicote tem um botão para ataque direto e outra para ataque em área. Fora isso, temos três mecânicas inéditas que são muito boas e bem pensadas, acrescentando um bom grau de profundidade ao jogo: refiro-me ao sistema de magias e a barra de foco.

Gabriel pode ser imbuído de dois tipos de energia, da luz (azul) e das sombras (vermellha), ao ativar a primeira ele se torna capaz de se curar, já a segunda é responsável por aumentar consideravelmente os danos dos ataques. Estas magias têm uma duração limitada por uma barra de energia, que mede o quanto você dispõe de luz ou sombra naquele momento. Existem duas formas de preencher estas barras: a primeira é derrotando inimigos, já que eles soltam uma orbe neutra que você deve transferir para uma das suas barras, o segundo é ativando a sua barra de foco (sim um quarto medidor, Castlevania é um jogo com cinco medidores na tela, Vida, Foco, Energia da Luz, Energia das Trevas e pontos de experiência, que você usa para evoluir o personagem).

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A Barra de Foco é quase um mecanismo a parte, ela só pode ser ativada quando Gabriel está lutando sem usar nenhuma magia. Basicamente conforme ele vai usando combos diferentes nos inimigos sem ser atingido uma única vez ele vai ganhando foco, até completar a barra. A partir daí cada golpe aplicado com sucesso lhe concede mais poder (que você direciona para as magias de luz ou das sombras) e o efeito acaba quando Gabriel finalmente é atingido. Considerando que normalmente não existem outros meios de recuperar vida sem ser através de magia (já que as fontes que completam a barra de vida são muito escassas e aparecem em pouquíssimas fases) isto deixa o combate muito mais estratégico e brutal. É necessário desviar e bloquear ataques, pois quem toma dano, não ganha magia de luz, e sem magia de luz o personagem não se cura. Esta estratégia é particularmente essencial nas lutas contra chefes, já que não é possível derrotar outros inimigos durante estas, o que significa que lutar com perfeição e evitar ser atingido é a única chance que se tem para vencer. A mecânica de combate é realmente primorosa e vai se tornando cada vez mais difícil a partir do progresso do jogo.

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Fechando esta já longa explicação da forma como Gabriel Belmont combate, o cavalheiro conta também com quatro itens secundários. O primeiro deles é uma tradicional adaga de prata, particularmente úteis quando arremessadas contra lobisomens (com magia das sombras ativada, a adaga se torna mais poderosa, pois começa a flamejar). O segundo item são as fadas, utilizadas para distrair o inimigo e ganhar um precioso tempo nos combates (quando utilizadas sob magia da luz, elas se tornam verdadeiras bombas voadoras). O terceiro é um dos objetos mais clássicos de Castlevania, a água benta, uma granada muito eficiente contra todo tipo de morto-vivo (que se torna um escudo protetor ao ser usado com magia da luz). O último e mais escasso dos itens é um Cristal Sombrio, que quando quebrado libera um poderoso demônio que destrói tudo que está na tela.

Felizmente o jogo não é só combate, muito pelo contrário, ele até aparece apenas de forma espaçada. Não existe aquela necessidade de luta ininterrupta que muitas vezes domina a franquia de Kratos. Castlevania: Lords of Shadow é repleto de quebra-cabeças, dos mais variados possíveis. Desde jogos de xadrez, passando por uso de música, manipulação de sombras e até mesmo o tradicional puzzle de espelhos e fachos de luz. Apesar de alguns serem bem simples, outros exigem um bom temp0 para o jogador solucioná-los. Conforme o jogo avança estes quebra-cabeças se tornam mais freqüentes e passam a fazer parte do gameplay usual de Castlevania. O jogo apresenta tantos momentos onde ficamos parados pensando em soluções que eu poderia dizer que a série Professor Layton (um jogo de quebra-cabeça para o Nintendo DS) é uma das influências mais fortes na concepção de Lords of Shadow (veja bem, poderia, mas não disse).

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Por fim, é importante mencionar, Castlevania não é um jogo completamente linear. Ele é dividido em doze capítulos com diversas fases em cada um. A maioria delas contém áreas e itens que só poderão ser acessados quando você revisitar o lugar em posse de novos poderes. E geralmente revisitar este excelente jogo vale muito a pena, tanto para ganhar mais experiência e destravar mais habilidades, como para se tornar cada vez mais poderoso, já que a maioria dos upgrades para seus objetos se encontram em lugares primeiramente inacessíveis ao jogador. Além disso, toda vez que você passa de uma fase, ela lhe apresenta um desafio (Trial), que é um objetivo diferente que você deve cumprir quando jogá-la de novo, estes desafios, costumam a impor uma dificuldade maior sobre o jogador, mas são bem legais de serem superados. Tudo isso somado, faz com que o jogo te incentive muito a voltar nas fases e jogá-las outras vezes, aumentando consideravelmente a duração deste título.

Conclusões

Resenha - Castlevania: Lords of Shadow – Ambrosia

Lords of Shadow é um jogos mais legais do ano. Ele apresenta defeitos bem chatos e frustrantes no quesito de jogabilidade, mas em geral é um jogo que merece ser testado. Se ele peca em certos momentos na precisão de suas fases de plataforma, o combate é assim como seu visual, algo estonteante e único. A música e a história despertam simpatia e interesse no jogador. Não há duvidas que estamos diante de um dos melhores jogos desta franquia, que consegue ser único ao prestar homenagens aos originais sem se repetir nem um pouco. No fim, a Mercury Steam conseguiu desenvolver um jogo que é fantástico pela boa harmonia dos diversos elementos que ele apresenta, e consegue dar um novo fôlego a uma série que sempre prezou pela repetição e pela auto-referência (como raras exceções). Certamente um dos jogos mais legais do ano.

Apresentação: 4.5/5
Enredo: 3.5/5
Jogabilidade: 3.5/5
Fator Replay: 3.5/5
[xrr rating=3.8/5]
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Comentários 1
  1. O jogo vale a pena tanto para nós saudosistas quanto para os novados que nem conheciam a franquia. Compensa cada segundo e promete uma continuação digna.

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