Larry Rohter é um jornalista americano que foi correspondente no Brasil para o jornal New York Times, e ficou mais conhecido aqui quando escreveu uma matéria sobre o tão comentado gosto pela bebida do nosso presidente, O Cara. Foi quase mandado embora do país pelo governo, e a imprensa usou esse episódio para fazer um belo escândalo acima do estrangeiro que falou mal de Lula, mas não de Bush. Enfim, essa introdução é só pra situar os esquecidos de quem é Larry Rohter. Ele já foi correspondente aqui para o The Washington Post e para a revista Newsweek, mas seu último trabalho no Brasil foi para o New York Times, onde escreveu matérias sobre o país de 1999 até 2007. Deu no New York Times reúne essas matérias, com comentários sobre as mais polêmicas e inusitadas reportagens e ainda as impressões do jornalista sobre o Brasil.
O livro é dividido por assuntos. Começa com as matérias sobre cultura, passando para política, economia, tecnologia e até um capítulo especial sobre o presidente Lula, intitulado “Lula e Eu”. Esse último é o capítulo mais polêmico do livro, pois é um relato completo da relação entre Rohter e o presidente brasileiro, até de quando ele era ainda apenas um líder sindical. Nas introduções de cada capítulo, Rohter mostra as suas impressões sobre cada aspecto brasileiro, comentando como foi fazer as matérias e também o que o levou a fazê-las.
Larry mescla bem as opiniões negativas e positivas sobre o Brasil, exaltando o quando o país é maravilhoso e cheio de elementos diferentes que fazem daqui um lugar singular. Ao mesmo tempo, ele aponta os problemas do Brasil, não só do governo, mas também do comportamento do próprio povo. E para mostrar que ele gosta mesmo do país, procura apresentar soluções para esses problemas, em base do que aconteceu de semelhante em outros países. Ele mesmo diz que não recomenda para o Brasil tudo o que o EUA fez para chegar ao status em que hoje se encontra, mas às vezes acha que isso é necessário. E devo dizer que concordei com tudo o que ele escreveu sobre isso.
Sobre as matérias, devo declarar que se tornam muito cansativas e repetitivas. Isso porque são transcritas exatamente da forma em que foram publicadas no New York Times. As várias informações repetidas ao longo das matérias são necessárias para apresentar o Brasil aos americanos. Mas tenho que dizer, foi um sacrifício no início do livro ver o Gilberto Gil sendo citado tantas vezes. Como o Brasil é mais conhecido apenas pelo Carnaval, futebol e suas praias, informações sobre a política e sociedade brasileira são necessárias nessas matérias destinadas aos EUA. Ainda encontramos várias comparações entre o Brasil e os EUA. O autor busca semelhanças entre os dois países para que os americanos compreendam melhor o que se passa aqui. A intenção de Rohter é realmente apresentar o Brasil para eles, fazê-los se interessarem pelo país.
Deu no New York Times pode servir como um tapa na cara dos brasileiros. Um balde de água fria jogado em nós pra dizer “hey, olha só como é o teu país e acorda pra melhorar isso”. Larry diz que somos mestre no “duplipensar”. Para quem leu 1984, de George Orwell, sabe bem o que isso significa e aposto que, assim como eu, achou que é uma comparação perfeita. Duplipensar significa acreditar em duas coisas contraditórias ao mesmo tempo. É o que o brasileiro faz, reclamar da corrupção na política e ao mesmo tempo votar naquele candidato que tanto roubou do país anteriormente. Se dizer cordial e respeitoso quando ao mesmo tempo ultrapassa o sinal para chegar mais rápido em casa, sem se importar com os outros. O livro não é só uma reunião de matérias, mas uma visão de como somos, e também de muita coisa que procuramos ignorar. Para nós, o livro é de grande familiaridade. Relembramos tudo o que aconteceu nesses últimos anos, porém com uma visão diferente e mais crítica.
Caramba, admito que comecei a ler a resenha de “nariz torcido”, pois pouco me importo com a visão americana do nosso país (ou de outros), mas fiquei interessado no final das contas. Ótimo uso do termo “duplipensar”, o Brasil é campeão nisso.
Muita legal resenha, faz um livro outrora bastante desinteressante, parecer algo instigante.
Realmente a opinião do correspondente nunca me pareceu algo muito relevante, e tenho certas suspeitas do tipo de crítica e soluções que ela possa vir a apresentar. Mas quem sabe no fim não haja realmente algo legal a se tirar de suas matérias…
Pois esse é o fato.
Nós, brasileiros, ignoramos muita coisa que acontece aqui. Seja por “patriotismo”, seja porque queremos internamente ver o país como um lugar mais bonito….
Mas Larry dá uma escancarada nas coisas. Mostra que não somos cordiais (como nos auto-intitulamos), mostra que também somos racistas, que à preconceito social. Essas coisas que julgamos haver em outros lugares, mas não aqui.
Eu realmente gosto de ver a opinião de alguém de fora. =D
Eu gosto de ver opiniões de pessoas de fora, mas geralmente não gosto da maior parte das análises sócio-políticas realizadas por jornalistas. Obviamente existem exceções, já li bons textos jornalísticos, mas na maioria dos casos, o que me prende mesmo são os textos de historiadores, sociólogos, cientistas políticos e etc. O próprio New York Times não é dos jornais que eu mais gosto.
Mas pode ser implicância de historiador.
Pois é, também não dou nenhum crédito ao New York Times! :/
Mesma coisa eu, que coincidencia o,O
Gostei muito do seu texto Izze
Não li nem vou ler, estudei para aprender à ignorar.
Ótimo o livro do Larry. É muito bom ler o que os outros observam sobre o Barsil e sua gente, principalmente alguém como larry que conviveu com os brasileiros muitos e muitos anos. Não é alguém que viu de relance. Não viveu e se integrou na família brasileira, inclusive casando-se com uma brasileira.
Desmistifica muitas coisas sobre o Brasil e os brasileiros. Exemplos: a pseudo cordialidade e o racismo enrustido como pontos negativos mas como altamente positivos a conquista do cerrado como seleiro com tecnologias desenvolvidas pela Embrapa.
Reinaldo Bohnen
Aqueles que não estudam nem lêem escrevem: "aprender à ignorar".