Distância de Resgate fala dos elos mais fortes que unem mães a filhos, num romance que alegoriza o desterro

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Os processos de afecção materna são muito bem esmiuçados no romance curto “A Distância de Resgate”, da escritora argentina Samanta Schweblin, que sai agora pela editora Record. Arquitetado para ser um conto de terror pairando sobre uma célula de sobrenatural, a narrativa tem no domínio da autora sua perfeita engenharia de controle do que falar e do que velar ou esconder, para que as revelações soem como um forte pesadelo para o leitor.

Duas mães estão com seus filhos em uma zona rural da Argentina. Carla, que tem um filho, David, conta à outra mãe o que seria a distância de resgate, um fio que guardaria e protegeria o filho em situação de perigo. Carla narra para Amanda como o filho David caiu doente após um episódio envolvendo uma fuga de cavalos de corrida. O garoto parece que sofre de uma intoxicação causada por herbicidas.

Samanta, a partir desta cena, cria uma forma de levar a sua narrativa a um experimento do sobrenatural, mas sem ter como base os elementos constituintes do estilo. Toda a narrativa é sobreposta em duas camadas de conversas. Carla e Amanda em um passado remoto, e Amanda e David num presente, onde há uma urgência de narrar os não ditos da história.

David seria alguém constitutivamente sem laços de afeto? Por que ele precisa que Amanda lhe conte os detalhes da intoxicação? Por que menciona a todo o momento o papel dos vermes na contaminação das crianças e de Amanda?

À medida em que a narrativa avança, a intoxicação vai pondo à prova as relações, deteriorando o que seria a distância de resgate.

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