Leonardo Villa-Forte fala sobre “O princípio de ver histórias em todo lugar”

Leonardo Villa-Forte é autor do livro de contos O Explicador, editora oito e meio editado em 2014. Em Novembro de 2015 lança seu primeiro romance “O princípio de ver histórias em todo lugar”, também pela Editora Oito e meio. Criou a série de colagens Mix Lit e a intervenção urbana Paginário. Seus textos foram publicados em jornais e revistas e sites no Brasil e Inglaterra. Graduado em Psicologia e mestre em Letras. Trabalha com colaborador editorial, tradutor e ministra oficinas.

A. O narrador do seu livro é um publicitário que lida com imagens, criação e mensagens. Este é um bom ponto de partida para falar sobre processo criativo\ apropriação artística\ autoria?

L. Não sei se cabe a mim dizer se esse é um bom ou mau ponto de partida para o narrador do livro. O que posso dizer é que em tudo existe um processo durante o qual as coisas vão se criando, inclusive para um publicitário. Um publicitário, me parece, é requerido a estar atento ao mundo ao redor, justamente para alcançar as pessoas, e nisso, deve se deixar contaminar pelo discurso dos outros. Diria até mesmo que a profissão demanda que se seja uma pessoa porosa, interessada no que circula por aí e com um olhar especial para a captação dessas informações. Nisso acredito que reside uma característica forte do meu narrador.

A. Até que ponto a (escuta no livro), ou melhor, a falta de escuta do personagem do livro com relação à esposa, foi algo interessante para delinear um perfil do narrador? Com relação à própria oficina literária.

L. Uma das coisas que acho interessantes nesse narrador é que ele é tão alheio ao mundo redor quanto aberto a receber o que vem dele. Acho que é um personagem que transita entre abrir-se e fechar-se. Ele escuta sua esposa, mas escuta à sua maneira. Da mesmo jeito, na oficina. Ele escuta os alunos, mas escuta à sua maneira. Parece-me que ele vai construindo suas próprias verdades a partir de cacos que recolhe (seja o que escuta, o que lê, etc).

Foto-de-livro-lancado---por-Leticia-Villa-Forte

A. Como foi que surgiu a ideia de entremear um romance de uma estória de um casal com uma oficina literária?

L. Surgiu a partir da intenção de mesclar, num livro, diversos registros, vozes, estilos diferentes, mas com alguma liga entre elas. Eu tinha alguns contos prontos. Daí passei a escrever uma narrativa mais longa, centrada num casal, mas logo vi que era uma história sobre distância e a criação de um novo modo de ser a partir dessa período de distância. Eu frequentei diversas oficinas literárias e vejo que este é um fenômeno que explodiu no Brasil de uns anos para cá, as pessoas se juntando, querendo escrever, mostrar para os outros os seus textos. Fazia tempo, era um tema que eu queria explorar. Então vi que eu tinha algumas pontas que se tocavam e daí pra frente passei a dirigir a narrativa para isso e escrevi novos contos. No começo, pareceu uma loucura total fazer algo assim, com essa estrutura. Eu precisava testar se ia funcionar, e isso me deu ânimo para fazer. Algum tempo depois vim a ler “Se um viajante numa noite de Inverno”, do Calvino”, e esse livro me deu a certeza de que poderia resultar em algo interessante.

A. Há na oficina relações entre a vida de seus personagens e os contos gerados durante a oficina. Foi difícil fazer estas conexões entre fatos e criação?

Sim, foi difícil. Me tomou uns bons anos!

A. Tudo seria performático? Haveria níveis de fabricação da ficção com profundas imbricações no serial/experiência/ou no processo de organização e criações de gêneros, como pode ser numa agência de publicidade?

Não sei dizer. Acredito que há mais conceitos de “performático” do que este que nos leva a pensar que quando uma pessoa está fazendo algo ela está “performando”, no sentindo de criando, falseando, atuando, produzindo algo que requer alguma elaboração. É claro que tudo é criado, e tudo existe devido a certo processo de elaboração. Um sentimento, uma tristeza, um reconhecimento, tudo isso tem seu processo de elaboração que nos leva a ter um certo sentimento específico, uma tristeza específica, um reconhecimento específico. O mundo, as pessoas, a mídia, os textos, filmes, músicas vão nos “performando” junto com nós mesmos, acredito. Mas não diria que tudo é “atuação”, até porque se tudo for atuação, a atuação deixa de ser atuação e passa a ser o comportamento padrão, não havendo mais diferença entre o atuado e seu oposto. Por ora, acho interessante que você ligue a ideia de “performático” à trama do livro. Não pensei muito nisso enquanto o fazia.

Fotografias por Isabel de Nonno

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