FLIP 2010: Robert Darnton e Peter Burke discutem o livro

FLIP 2010: Robert Darnton e Peter Burke discutem o livro – Ambrosia

Na última mesa do segundo dia da FLIP, o assunto foi o livro. Não uma obra em específico, mas o livro em si, como matéria, um objeto. A fala era  sobre sua importância na História do mundo, em uma conversa com os historiadores Robert Darnton e Peter Burke, mediada pela professora Lilia Schwartz. A mesa é a primeira do evento a tratar sobre o assunto.

Diretor da biblioteca de Harvard e pesquisador especializado sobre a França do século XVIII, Darnton começou falando do porquê estudar as enciclopédias desse período e, também, a literatura erótica. Utilizando os livros como forma de conhecer a sociedade da França daquele tempo, Darnton pesquisou os livros mais vendidos e constatou que, entre autores conhecidos, como Voltaire, haviam vários desconhecidos que vendiam tanto quanto. Entre os “best-selllers” antigos estavam os livros pornográficos.

O “capítulo 1” da mesa O Livro se centrou no objeto na história. Darnton e Burke, denominados historiadores culturais, falaram do início dos estudos no livro, de como a comunicação escrita contribuiu para esclarecer a vida da época juntamente com a comunicação oral. Darnton falou de como foi importante na sua pesquisa de livros mais vendidos para mostrar ao leitor que boa literatura não é só aquela que os professores e acadêmicos estudam. Há muita coisa lida na época que se mantém escondida e é, sim, de qualidade.

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Enquanto Darnton falava das suas pesquisas, Peter Burke declarou que se sente desconfortável e privilegiado vendo como o papel do livro vem mudando nos últimos 30 anos. Ele se diz desconfortável com o fato de o livro de papel, e o papel em si, estar perdendo importância. “Meu pai vendia papel, e eu adorava ficar na biblioteca folheando livros”, lembra. Ao mesmo tempo, está feliz por, como historiador, poder presenciar essa mudança.

Burke e Darnton também falaram de como os livros viravam cultura oral. Segundo os historiadores, um livro publicado era contado às pessoas, e acabava virando história falada. Outro ponto da mesa foi a questão dos direitos autorais, levantada pela mediadora Lilia Swartz. Ambos disseram não serem contra a lei de direitos autorais, mas sim contra a privatização da cultura. “Na França, antes da Revolução, foi estipulado que os direitos autorais valeriam durante 14 anos, podendo ser renovado uma vez”. Darnton reclamou que há livros do período de 1800 que ainda estão sob direitos autorais, e que aumentar ainda mais esse intervalo seria um ato negativo para a cultura, pois estariam apenas comerciando-a.

Ainda falando da mesma época na França, os historiadores explicaram como funcionava a publicação dos livros. Para isso, o autor deveria ter uma autorização do rei para imprimir e distribuir sua obra. A corte contava com uma equipe de sensores para decidir o que merecia, ou podia, ser publicado. “Metade dos livros eram impressos fora da França e contrabandeados para o país”, revelou Robert Darnton.

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Dentre outros assuntos, Darnton e Peter Burke falaram ainda sobre o “perigo” que os livros poderiam trazer à um governo, e toda a sua importância para uma época onde muitos não tinham acesso à leitura, mas que mesmo assim mudava opiniões e escreviam a história do mundo. No fim, Lilia Schwartz encaminhou o assunto para a próxima mesa, perguntando aos historiadores o que eles usavam: Kindle ou iPad. Ambos responderam que preferem os livros físicos.

Mas essa foi só a primeira mesa falando sobre o livro. No “capítulo 2”, não é a história, mas sim o futuro do livro que será discutido, envolvendo as novas mídias digitais e novos hábitos de leitura. Para quem aprecia uma boa literatura, o assunto agrada por falar justamente da preservação do ato de ler.

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