Como um copo cheio que transborda. Há nele com tudo uma experiência de volição da substância líquida que está, mas a qualquer momento por um solavanco pode entornar. Tornar em curso o uso que o desejo faz de si, alternar uma linha que transmita a noção de fronteira entre o corpo e um outro conjunto de traços-laços-embaraços.
No livro Amores, truques e outras versões, de Alex Andrade, o escritor põe em três narrativas breves uma territorialidade do corpo masculino através de seus espelhos que tencionam os órgãos sexuais à procura do semelhante ereto. Num estado de dormência, os personagens se afligem, querem a latência do empedramento. Saem às ruas com todo aparato tecnológico para rastrear textos corporais que se visualizam na tela de um celular, o estado de excitação já vem através de trechos narrativos (pedaços de corpo) fragmentos de um discurso fetichista.
Querem os personagens: o torso do, o pênis do, a parte que substitui o todo. Nas três narrativas, homens-cambiantes se liquefazem em meios, em mensagens, mas ao fim parece que não se bastam, na relação consumada, fica uma parte fina(lista). Como se pelo próprio ciclo que o escritor desenvolve nas narrativas inserindo em cada uma a participação de um novo elemento, que na verdade, já é travestida com outras configurações.
Em Trilogia de Nova York, do Paul Auster, um certo personagem de um conto andava pelas ruas da cidade pelo simples fato de ter um corpo, um jogo de locomoção que lhe permitia andar por tempo indeterminado sem muito saber do porquê da andança. No livro de Alex, o corpo dos seus personagens homens é uma compleição ao nomadismo, ou fazendo um trocadilho um nome(istmo) não importa muito a definição de quem está ali, mas sim a gênese de um desejo em seu percurso indefinido.
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