Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais.”Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais –
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Início de “O Corvo”, na tradução de Fernando Pessoa
Tal importância de Edgar Allan Poe para a poesia e literatura que muitos se surpreendem quando descobrem ser este norte americano, ao invés de inglês, mas um dos maiores nomes do romantismo também é famoso por ser um dos primeiros escritores americanos a trabalhar com o sobrenatural e a ficção científica em seus textos.
De infância complicada, filho de pai ator que abandonou a família e mãe atriz que morreu no parto de sua irmã, Edgar cresceu sob a guarda de seu tio e acabou buscando carreira militar, mas foi expulso por desobediência e passou a investir seu tempo em sua carreira de escritor. Foi neste período que Poe casou-se em segredo com sua prima Virgínia, já que a garota tinha apenas treze anos.
Da tristeza pela doença da esposa, que começou a sofrer de tuberculose, Poe adquiriu o vício do álcool, e após se mudar para Nova Iorque e conseguir trabalho como editor de jornal. Foi em 1845 que publicou o poema “The Raven” (O Corvo) para o jornal Evening Mirror. Depois da morte da esposa, Poe vagou perdido por diversas cidades e acabou encontrado em estado deplorável antes de morrer aos quarenta anos de idade, em 7 de outubro de 1849.
Tal vida trágica só aumenta o mito em torno do escritor romântico, e como não poderia deixar de ser, também sobre sua obra.
Partilhando do mito do escritor, e aproveitando o lançamento do filme baseado na sua mais comentada obra (saiba mais no final deste artigo), a Editora Hedra acaba de lançar “O corvo: gênese, referências e traduções do poema de Edgar Allan Poe”, a maior publicação no Brasil já realizada sobre o “O Corvo”. Com 198 páginas, o livro de Claudio Weber Abramo busca analisar a origem e simbologia do poema, tratando também das celébres traduções realizadas por Machado de Assis, Fernando Pessoa, Baudelaire e Mallarmé.
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O Corvo (2012)
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=m-SlgWLV_xE[/youtube]
Com John Cusack no papel de Edgar Allan Poe e dirigido por James McTeigue (Ninja Assassino, V de Vingança), o filme coloca o poeta como investigador de uma série de crimes que parece ter saído de sua própria mente, tudo para impedir o assassinato de uma pessoa querida ao escritor.
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