Literatura

“A Puta” lavra o disfarce de uma interioridade que nós não ocupamos poetivamente

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Respiramos o mesmo ar? Ou não? Peixes e anfíbios res(piram) dentro do meio aquoso. Nós precisamos do ar puro, células de oxigênio para existimos. No meio d’água lava-se, e no meio da larva? – de um processo diminutivo de vida sem operações cerebrais que comandam o raciocínio humano. A larva é o disfarce de uma interioridade que nós não ocupamos poeticamente. Se a palavra na poética é lavra do poeta por que não ser também a larva do gênero.
A-Puta-Marcia-BarbieriAo ler “A Puta”, editora Terracota, da escritora Márcia Barbieri, veio-me este gravetos, que encontramos no meio da mata, que não são achas de madeiras nem lenhas nem muito menos troncos. Poeticamente funcionam com falos impotentes devido a sua espessura e tamanho. Pode-se deliberar como alguma coisa pequena, esta não magnitude de potência que o graveto possui, estala na minha fricção de falar de fugas grave-vetoriais que a personagem Puta numa fala-para dentro e ao mesmo tempo expositiva interrompe a imagem de modelo padrão familiar, constituição de Bios(lógicos?) –tipos que seriam o modelo – Pai – mãe e descendentes.
No escorrer de todas as secreções está o discurso onde o modelo retentivo da família tradicional tenta disfarçar no seu processo larvar. Trata-se de não destituir as relações que no livro de Márcia existem como formas transgressivas de dês(molde) da conduta normativa. Se respiramos o ar, a conduta transgressora seria irmos a outro reino, como das águas subterrâneas.
Márcia tem uma ótima voz para dar a personagem da Puta uma aparência mimética, mas ao mesmo tempo concreta, nesta linha onde ela não situa o enredo numa paisagem geográfica nítida, a puta acaba recebendo os nomes de todas as constituições de potencialidades femininas, não reducionistas; aqui abro um parênteses para perceber certas linhas barrocas e nômades e também erráticas com o livro do João Gilberto Noll, Fúria do Corpo. Mas no livro da escritora há uma percepção de que a poética é a traça que come o tecido de todo bom texto ficcional, ela (in)distingue o sentido literal para uma nova significação inverte-que-brada. Ou Larval.

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