Mauricio Duarte é jornalista e autor do recém publicado livro de poemas “A arquitetura das constelações”(Patuá, 2017). Paulistano, nascido em 1981, também tem publicados os livros “Balde de água suja” (Patuá, 2015) e “Rumor Nenhum” (7Letras, 2007, coleção Guizos). Foi um dos autores de “Haja Saco, o Livro” (Multifoco, 2009), baseado em blog homônimo e j&aacut e; extinto. Vem escrevendo nas principais publicações literárias do país, como as revistas Cult, Lado7, Inimigo Rumor, Mallarmagens, Revista Gueto, entre outras. Fizemos quatro perguntas ao escritor. Confira.
1) Há uma ideia de um núcleo que não é coeso em seus poemas. Ele seria uma ideia do todo conjunto (diversificado) pela forma do mundo pela especificidade humana. E que você o experimenta pela linguagem poética. Fale sobre isso.
Embora o livro claramente tenha uma unidade intencional, ele é fraturado. E isso é uma extensão talvez de como eu mesmo me sinta em relação ao “estar no mundo” drummondiano. O deslocamento é uma coisa recorrente nos meus livros, essa falta de pertencimento, uma sensação de que há uma ruína qualquer o tempo todo, uma certa angústia. Neste último, talvez pelo momento particularmente trágico em que vivemos (não somente político, mas principalmente cultural), há também esse embate com a imobilidade. Uma sensação de estar atado a um mundo que não corresponde ao que eu de fato atribuo valor.
2) Você trabalha muito bem certos encaixes de ideias-palavras nos poemas. Eles são recorrentes criando um efeito de dança, de circularidade. Talvez como se isso fosse uma partitura musical com algumas notas recorrentes. Que tipo de tom você quis dar com esta prática?
Diferentemente dos meus outros dois livros, este último foi de fato pensado como um projeto mais definido, com uma ideia de circularidade na cabeça. Eu estava bastante ciente do caminho a percorrer, o que não é comum no meu trabalho. A questão da recorrência ocorre porque acredito que toda obra é feita de recorrências. Você pode mudar a forma, a abordagem, mas há grandes temas permanentes que assombram um autor.
3) A forma de busca do sentido no seu poema está sempre no fora, no entorno do que deflagra de uma estrela, de um meteoro como a poeira estelar. Há em nós um desprestígio pelas excrecências, pelo velho. Mas quando você foca as estrelas, os corpos celestes, este desapegar-se da matéria torna-se diverso. O que difere o nosso olhar com relação aos nossos restos para a imensidão do espaço sideral?
Não sei o que difere. A poesia, de certa forma, é olhar pela primeira vez para uma coisa, mesmo que ela esteja desde sempre na sua frente. E acho que esse olhar pode ser direcionado a qualquer coisa. Seja um meteoro ou uma mexerica.
4) Você acredita que a linguagem consegue descrever o mundo, o real?
Acho que não. A linguagem é sempre insuficiente. Existe uma tensão permanente entre o que se quer dizer e o que se consegue dizer. De certa forma, acredito que a arte seja uma mediação disso, um resultado possível dessa tensão. Que já é de antemão fracassada. O real é irreplicável, e talvez não seja interessante para a arte replicá-lo de modo exato. A arte existe para inventar o mundo, porque a vida não é suficiente, como dizia o Ferreira Gullar. Os gregos antigos já disseram que arte é mímese, ou seja, imitação. Claro que Aristóteles deu outro significado a isso, no sentido do conhecimento pleno do real para imitá-lo, mas ainda assim parte do pressuposto da imitação.
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