Se um vinil contém as faixas e se cada um é uma arte única com suas músicas formando ao final um trabalho coeso. A escrita de Alex Andrade é também uma elaboração parecida a de um vinil no livro “Poema” pela editora Confraria do Vento. Pelo seu título já no singular, o autor constrói um lindo mosaico de estórias onde o fio da costura é sempre um poema colocado ao final de cada conto. O único que não obedece tão composição é o que abre o livro, “Minhas noites com Rimbaud”, Alex no caso utiliza o poeta Rimbaud como um dândi vivendo nos dias atuais num apartamento. Ao receber a visita de um vizinho, o autor brinca com as referências biográficas do poeta no presente.
Alex em cada conto singulariza sua estória com elementos simbólicos, cada narrativa tem uma linha temática bem definida. “Tempo de Esperança”, um viúvo morando sozinho recebe a visita do filho que em um determinado momento deixa um livro de poema na casa do pai (um livro do Carlos Drummond de Andrade), que vai de uma certa maneira motivar uma ação do pai (leitura) em torno do poema.
A relação entre os fatos ficcionais do enredo com a presença de um livro sempre a mão do personagem cria nos contos de Alex uma simbiose entre a poética do texto colocado pelo autor, com toda sua etérea beleza e sua capacidade de emotividade, com um conflito ou ação do personagem ficcional que de certa maneira vai desafogar sua afeição no poema transcrito no final. Cada gesto e demanda do personagem pelo livro de seu poeta escolhido é também uma recriação do escritor para homenagear o processo criativo tanto da ficção como da poesia.
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