Lá se vão cinco anos quando a novaiorquina Stefani Joanne Angelina Germanotta teve sua voz ecoando em pistas de dança dos quatro cantos do globo com sua Poker Face. Era o primeiro single do disco de estreia de Lady Gaga (nome que ela criou inspirada na canção “Radio Gaga” do Queen) The Fame. Contrariando quem achou que se tratava de uma One Hit Wonder, vieram na sequência os hits “Just Dance”, “Love Game” e “Papparazzi”. Há muito tempo que uma artista não emplacava tantos sucessos em um álbum de estreia. E a coisa não parou por aí: veio The Fame Monster, que era o primeiro disco adicionado ao E.P. com oito músicas (mas que depois foi lançado também separadamente) e trazia os hits “Bad Romance”, “Alejandro” e “Telephone”, esta última com participação de Beyoncé.
Nascia a primeira megastar do novo milênio e, claro, as comparações com Madonna começaram a pipocar. Afinal, Gaga também tinge o cabelo de louro, e é cria da cena novaiorquina (ao contrário de Madonna que se mudou para a Big Apple, ela é nascida na cidade), e de família ítalo-americana, faz um som dançante. As semelhanças são muitas, a ponto de em seu álbum Born This Way, fazer da faixa título quase um plágio de Express Yourself, plágio esse que a própria Madonna ironizou por meio de um snipet em seus shows da última turnê.
Polêmicas, esquisitices e extravagâncias à parte, Lady Gaga trouxe um sopro de vitalidade na mesmice que se abatia sobre o pop pasteurizado e plastificado dos anos 2000 com suas coreografias estranhas, figurinos e maquiagens bizarras e melodias que alternavam pop palatável com vanguarda. Isso sem contar com as ótimas influências que quase ninguém cita (ou não identifica) como David Bowie, T. Rex, dance music dos anos 90 (lembra da brasileira radicada na Itália, a Corona de “Rythm of the Night” ou dos suecos do Ace of Base? São grandes inspirações), Elton John e, talvez até mais do que Madonna, Grace Jones.
Em seu último lançamento, Artpop (Interscope/Streamline, 2013), a cantora volta com todos os elementos que a consagraram. O título é uma clara brincadeira com o movimento pop art que teve Roy Lichenstein, Andy Warhol e Keith Haring como principais expoentes. Movimento que também tem muita influência sobre a música e concepção visual de Gaga. O problema do álbum é justamente a falta de ousadia. O anterior causava estranheza em alguns momentos, era imperfeito no todo, mas pelo menos havia uma ousadia louvável em suas faixas, propondo uma desconstrução do pop. Artpop peca pela longa duração (15 faixas distribuídas em 59:16 minutos) e por um certo conformismo, como se ela dissesse “cheguei ao topo e não preciso provar mais nada”. Na faixa “Donatella” (ela adora músicas com nomes de pessoa, Alejandro, Judas), que é uma homenagem a Donatella Versace, ela proclama:
“I am so fab/Check out/I’m blonde/I’m skinny/I’m rich/And I’m a little bit of a bitch (Eu sou tão fabulosa/Veja só/Eu sou loira/Eu sou magra/Eu sou rica/E sou um pouco puta).
Seria uma autocrítica? Mas esse parece ser o espírito do disco, que tem participações especiais de gente como T.I, Too $hort em “Jewels n’ Drugs”, R. Kelly em “Do What U Want”, mas eles não acrescentam quase nada, estão ali apenas vendendo seu peixe.
O álbum tem uma produção impecável, como tudo lançado pelo mainstream atualmente. Lady Gaga, seguindo os passos de Madonna, procurou se cercar de gente in na elaboração de seu trabalho. A lista de produtores inclui David Guetta, D.J. White Shadow (que também produziu Born This Way), Will I Am e Rick Rubin (ele costuma ser convocado quando o artista quer adicionar peso ao som), que já produziu Slayer, Metallica e Red Hot Chilli Peppers.
Artpop no balanço geral não é ruim e não mancha a imagem da estrela. Tem bons momentos, principalmente se aproximando do final como “Dope”, “Gipsy” e a primeira música de trabalho “Applause”. Mas podia ser um pouco mais corajoso, como seus trabalhos anteriores e ter uma duração menor, ainda assim é um veículo adequado para a manutenção do stardom da cantora, que certamente não perderá seu lugar no olimpo pop tão cedo.
Embora seja o menos inspirado de sua carreira, acena para um profícuo futuro, que pode até nem estar assim tão distante. Mas no momento a desconstrução vanguardista está mais nos figurinos e na “atitude” do que nas composições.
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