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Bate-Papo com o jornalista musical Ricardo Schott

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O jornalista do jornal O Dia, crítico musical e radialista Ricardo Schott pode ser considerado um herói da resistência do rock no dial carioca. Sem nenhuma rádio rock após o fim da Rádio Cidade em agosto, a melhor opção para se ouvir rock no Rio, seja clássico ou novo, é o programa Acorde, que Ricardo apresenta todos os sábados na Rádio Roquette Pinto. Ele também é autor do livro Heróis da Guitarra Brasileira (Ed. Vitale), junto com seu companheiro de jornalismo cultural Leandro Souto Maior, que também é guitarrista da banda Fuzzcas. A Revista Ambrosia bateu um papo com o jornalista (carinhosamente chamado por Leandro de Schottpedia, devido a seu vasto conhecimento musical) sobre o livro, o programa e, claro, o bom e velho rock n’ roll.

Ambrosia: O que você está achando da atual cena rock brasileira?                

Ricardo Schott: Eu sou, digamos, um ouvinte meio sedentário de rock nacional atual. Ouço o que chega para mim e procuro pouca coisa. Fiquei bastante impressionado recentemente com duas bandas do Rio, Estranhos Românticos e Canto Cego, e uma de São Paulo, Mundo Alto. Lost Trouble Boys, que é uma banda punk lá de Ibitinga (SP) também achei muito bom. Acho que o rock não está num momento dos melhores porque o mercado não está dos melhores e o público não está tão ligado em rock. Falta algo mais inovador comportamentalmente. O rock perdeu muito espaço para o funk e o hip hop, que talvez satisfaçam mais a rebeldia de uma parcela grande dos jovens.

Agora, sobre o seu livro Heróis da guitarra brasileira, Muita gente quando visualiza o título “heróis da guitarra” acha que é um livro sobre rock. Mas o livro não trata apenas músicos roqueiros, não é?

RS: Isso, e a guitarra brasileira passa pela música da Bahia, que vinha do choro, do jazz, não exatamente do rock. Os primeiros heróis do livro são Dodô e Osmar, que criaram os chamados “paus elétricos” numa época em que não havia nada. Se você buscar no jazz e na MPB, acha grandes guitarristas.

Como se deu a gênese do livro?

RS: A ideia foi do Leandro. Inicialmente pensamos em apenas falar de clássicos indiscutíveis como Sergio Dias, Robertinho de Recife. Após um papo inicial, vimos que daria mais pé “convidar” clássicos não tão clássicos, gente que precisava ser redescoberta, que teve projeção por muito tempo e sumiu, que gramou anos em palcos e estúdios. A gente teve pouco tempo pra pesquisar, ler, entrevistar e acho que, dadas as limitações, foi um esforço grande e um resultado bacana.

Qual foi a entrevista mais marcante para vocês?

RS: Para o Leandro com certeza foi o Toninho Horta. Adorei ter falado com o John Flavin, que foi guitarrista do Zé Rodrix e dos Secos & Molhados. E fiquei particularmente orgulhoso de ter falado com o Sérgio Serra, que foi do Ultraje A Rigor. Pouca gente sabe disso, mas ele foi muito ligado ao Toninho Horta quando adolescente, aprendeu muita coisa com ele. O disco “Terra dos pássaros”, do Toninho, é dedicado a ele. Sérgio até brinca que o Roger Moreira, quando o convidou para entrar para a banda, falou: “Pô, a gente quer você aqui, apesar de você gostar de Djavan, ter esse suinguinho carioca…”. Tem uma foto famosa do Toninho, em que ele está com várias pessoas num jipe em Belo Horizonte, que tem o Sergio Serra segurando a guitarra dele.

Qual é o Herói da Guitarra que vocês gostariam de entrevistar, mas não conseguiram?                                                                                                                

RS: Acho que nenhum, falamos com todos os que queríamos.

Um segundo volume está a caminho?

RS: Não, no momento o Leandro está mais ligado nos projetos dele em Mauá e eu estou ocupadíssimo com O Dia e com o Acorde, fora outros projetos. Até o começo de 2017 vou lançar um site de cultura pop e tenho projetos de outros livros, inclusive de ficção. Fica para quando eu tiver tempo, porque fazer livro trabalhando não é nada fácil… Se fosse modificar algo no livro hoje, daria mais espaço para guitarristas novos e para a turma do Pará, que é o último estado brasileiro que fez alguma renovação no instrumento.

A guitarra é sem dúvida um instrumento emblemático, ainda mais em se falando de rock. Mas vocês já pensaram também em fazer também um livro sobre artistas de outros instrumentos, como, por exemplo, “heróis do baixo” “virtuosos do teclado”?

RS: Chegamos a falar disso, mas nada concretizado.

Roqueiros atualmente são conservadores, gostam de ouvir apenas coisas velhas. Mas no Acorde você sempre apresenta uma novidade. Qual dessas bandas apresentadas chamou mais a sua atenção?

RS: Fiquei particularmente animado com uma banda americana, na verdade uma dupla de irmãos, chamada Lemon Twigs. São dois rapazes adolescentes que tocam som herdado de Supertramp, Todd Rundgren, 10cc, Queen, Electric Light Orchestra. Lançaram um CD agora, fazem um som fantástico. Tem uma banda texana chamada Tele Novella, que é influenciada por anos 60, soul, new wave, Mutantes, tem uma mania com o dia das bruxas e diz que faz “pop macabro”, que é excelente. Também adorei o disco novo do Balance And Composure, uma banda considerada emo, mas que deu uma bela crescida em composições, melodias. 2016, inclusive, trouxe uma safra excelente de discos legais, sem falar nos retornos do Iggy Pop e do Leonard Cohen. Isso para um ano em que perdemos Prince e David Bowie. Pode não ser tudo, mas é muito.  O Acorde na verdade investe em novidades novas e velhas, vamos dizer assim. Adoro buscar coisas antigas que passaram batido, ou que são hoje pouco compartilhadas na web. Tenho muito orgulho de tocar bandas como 10cc e Cheap Trick, que não aparecem muito em rádios rock comuns. Redescobri sons maravilhosos de nomes como Roy Wood (Electric Light Orchestra/Wizzard), BeBop De Luxe, Roky Erickson, APB, Deniz Tek.

Como amante de boa música, você certamente curte o disco em formato físico. Você aderiu ao vinil?                                                                                                     

RS: Não aderi. Escuto música apenas em CD e Spotify e me acho um verdadeiro E.T. porque ainda compro CDs. Não tenho toca-discos de vinil desde a década passada e se fosse comprar um, não entraria nessa onda de vinis novos e caros, não.

Você já arriscaria dizer qual O disco de 2016?

RS: Gostei muito do disco do Emitt Rhodes, um cantor lá dos Estados Unidos que retornou com o primeiro disco desde 1973. Foi até pouco falado, dada a qualidade do disco. Mas não arriscaria dizer que é o “do ano”, não. Teve muita coisa boa: David Bowie, Wilco, Leonard Cohen, Allah-Las, Beyoncé, PJ Harvey. De nacional gostei recentemente do Vitor Araújo e do Guri Assis Brasil, das estreias do Canto Cego e dos Estranhos Românticos. Os novos de Céu e Negro Léo e a estreia da Mahmundi. Bastante coisa.

Para finalizar, como você vê essa escassez de rock no dial carioca?

RS: Rock e Rio são coisas antagônicas. O Rio não ama loucamente rock, por mais que muita gente diga o contrário. Não é uma cidade de roqueiros e nunca foi. O que se dá bem por aqui são outros tipos de som: funk, pagode, hip hop, até MPB, samba-rock. E o público para rock que existe no Rio não é respeitado. Qualquer rádio rock que inicia no Rio diz que vai inovar, que vai tocar o que não toca em rádio – não dá nem seis meses, e a programação tá toda calcada em best sellers e clássicos do rock. Acredito que essas rádios façam pesquisas com o público para saber o que querem ouvir e cheguem na informação de que querem ouvir rock clássico. Só que o público de rock que ouve rádio é conservador. E o ideal seria atrair gente diferente, um público novo. Esse público é altamente renovável no pagode, no sertanejo, mas ninguém tem culhão ou dinheiro para fazer isso com os millenials que ouvem rock. Mais: do que adianta tocar rock clássico e oferecer ao ouvinte o mesmo de sempre, que ele pode ouvir no Spotify, no YouTube ou comprando vinil e CD usado? Não dá nem pra tocar um lado Z do Led Zeppelin? Ainda sobre dial, no Rio tem a Rock FM, que é uma rádio ainda de alcance pequeno, mas que pelo menos musicalmente vem trazendo coisas difíceis de se ouvir em rádio aberta. Vamos ver se têm como continuar.

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