Esqueça o preconceito arraigado com Lady Gaga e essa capa horrorosa e nada sutil. Cheek to Cheek, disco de Tony Bennett e a cantora Pop só com clássicos jazzísticos de renomados compositores americanos é bem bom. A parceria já tinha sido solidificada no trabalho anterior de Tony, Duets II (2012), com a canção The Lady is a Tramp, mas começou mesmo quando o veterano a viu cantar Orange Colored Sky numa noite de gala do Robin Hood Fundation, em Nova York. A expertise de Tony casa perfeitamente com a potência vocal de Gaga que, para além de toda histeria Pop visual que busca para si, tem uma bela voz e compreende bem a cadência que esse estilo musical precisa. Todo mundo sabe que Stefani Germanotta (nome original de Lady Gaga) é cria de uma família riquíssima e culta, portanto, muito foi investido em sua formação musical, o que a gabarita para uma flexibilidade musical interessante até para sua própria carreira.
A música de trabalho, Anythings Goes, que traduz perfeitamente o contraste entre o classicismo da música e o inusitado da parceria, funciona como um cartão de visitas para o que o álbum é: um tributo ao passado, dialogando com os maneirismos do presente. Como? Não só pela presença de Gaga, mas pela sensação de que os dois estão se divertindo em seus duetos e solos ao longo das músicas. Durante a coleção de canções de compositores como Cole Porter, George Gershwin e Billy Strayhorn, os dois vão demonstrando solidez (e a ela, muita profundidade), com pouquíssimos senões.
Se em Bang Bang, Gaga fica um tom acima do ideal, em Nature Boy, ela agarra com unhas e dentes a percepção da letra, sendo o ponto alto do disco. Bennett brilha no tradicionalismo (um tanto particular) de But Beautiful. Fora que é uma delícia ouvir a interação dos dois em It Don’t Mean a Thing (If It Ain’t Got That Swing). Cheek to Cheek representa vigor para Tony, refresco para Gaga, versatilidade para ambos e uma boa jam session para os ouvintes. Não subestime os desdobramentos da cultura Pop. Nem que seja pelo Jazz…
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