Sérgio Ricardo (1932-2020) faria 90 anos em 2022. E para celebrar a sua obra e o seu legado na cultura brasileira, o seu filho, o multiartista João Gurgel, prepara uma série de novidades ao longo deste ano. A primeira delas é o lançamento do clipe de “Cacumbú”, clássico do ícone da música e do cinema, disponível no seu canal no Youtube.
O videoclipe de Cacumbú é uma animação old school feita com massinha que ilustra a letra da música, um manifesto contra as agressões do homem à fauna e flora marinha, retratando essa realidade do ponto de vista dos animais, como protagonistas de uma triste história. A sereia traz a atmosfera fantástica e faz referência a Iemanjá, Iara, e outras entidades e personagens do nosso folclore, por uma estética soturna e elegante, uma linguagem visual naif e conceito político-ambiental nas entrelinhas dos signos presentes em cada quadro. Todo o processo de elaboração foi realizado artesanalmente por João, que também produziu a canção – que se integrou ao seu primeiro álbum solo, “Conversação de Paz – Um tributo a Sérgio Ricardo” -, gravou diversos instrumentos e a interpretou.
– A ideia de fazer o clipe da música veio antes de incluí-la no álbum. Como já tinha sido gravada pela minha irmã, Marina Lutfi, não fazia parte do processo de ‘Conversação de Paz’. Ela surgiu quando a minha irmã, Raiane, que mora no exterior, vinha para o Brasil junto com a família para o aniversário de um ano do seu filho, mas a pandemia veio e os aeroportos fecharam. Como resultado, herdei as massinhas que seriam brindes da festa. Na semana seguinte que meu pai faleceu, na casa da minha mãe, Irene Cristina, passei dias e noites criando, modelando as peças, montando cada quadro e, nesse processo, bati mais de duas mil fotos, atravessando madrugadas, durante o luto. Eram os personagens do programa dela, que é jornalista, e as suas ideias me motivaram a produzir o clipe naquela mesma semana – revela Gurgel.
Essa experiência se tornou um divisor de águas na carreira de João. A partir daí, descobriu uma paixão e vocação, que virou uma de suas atividades profissionais principais a partir de 2020, quando criou o projeto “Estúdio Multimídia Vidigal”, onde produz seus conteúdos audiovisuais e para terceiros.
Clássico revisitado ecoa alerta atual
Gravada inicialmente em 1975, “Cacumbú” é uma canção com conotação político-ambiental e faz uma crítica direta e poética sobre a poluição dos mares. Na sua releitura, João incorpora um arranjo com um mix peculiar de timbres orgânicos, digitais e analógicos, que se destaca na improvisação de contracantos.
Conversando com o groove, conduzido pela bateria suingada de Kuteer Vollmer, encaixa um samba funk pesado na levada original da música (clássica batida de João Gilberto), resultando em uma sonoridade híbrida e jazzística que se “abrasileiriza”, indo para o regional.
Esse mergulho conta com a participação especial do baixista consagrado, intérprete, produtor, arranjador e compositor goiano Bororó Felipe – parceiro e muito amigo de Sérgio Ricardo -, que gravou baixo elétrico nesta versão e um aboio (canto do vaqueiro) com sua voz grave, em referência aos arranjos de Sérgio, que trouxe essa cultura para a MPB, e contraponto a Gurgel.
Arte, resistência e solidariedade
O lançamento do clipe de “Cacumbú” vem acompanhado por uma programação que se estenderá até junho, mês de aniversário de Sérgio Ricardo, com lives solidárias aos moradores da comunidade do Vidigal (onde mora, no Rio de Janeiro), novos clipes e uma turnê em tributo aos seus 90 anos.
Conversação de Paz
“Conversação de Paz – Um tributo a Sérgio Ricardo” é o primeiro álbum solo da carreira de João Gurgel, com canções do pai. Gravado pelo selo Tuhumusic, o álbum conta com releituras de sete canções emblemáticas do ícone da MPB. “Conversação de Paz” (do clássico LP “Arrebentação”, de 1971, que completa, portanto, 50 anos), “Emília” (1977), “Cacumbú” (1975), “Bate Palma” (2019), “Folha de Papel” (1963), “Bichos da Noite” (parceria com Joaquim Cardoso, de 1967) e “Lá vem Pedra” (1979) ganham novas roupagens com elementos do jazz, do pop, do soul, do funk e do rock, mas sem perder a brasilidade.
A produção musical e audiovisual, direção e arranjo são do próprio João. A produção fonográfica é do alemão Micah El Tuhu (amigo e parceiro de longa data de Sérgio), que também assina a masterização e, com Fellipe Mesquita e Gabriel Tavares, a mixagem. É acompanhado no estúdio pelos vocais da família, com Marina Lutfi, Adriana Lutfi e Luiza Lutfi, além das participações de Babu Santana, Emília Lins, Fellipe Mesquita e Marcello Melo, e da banda formada por Marcos Schainberg (guitarra), Antônio Dalbó (teclado), Giordano Bruno (baixo), Neto Nbeatz (bateria), Jr. Ramos (percussão), Alexandre Caldi, Bororó Felipe, Cristiano Saramago, Diego Zangado, Edson Oliveira, Fernando Jovem, Juan Varela, Kuteer Vollmer, Luiz Felipe Caetano, Rodrigo Galha, Samir Aranha, Thiago Garcia e Victor Lemos.
Herança multifacetada
Músico, cantor, compositor, professor, ator, artista plástico, poeta, entre outros talentos e ofícios, João é um artista multimídia, assim como o pai, que iniciou e participou de diversos movimentos culturais, da Bossa Nova à Canção de Protesto, dos Festivais de Música Brasileira ao Cinema Novo, como músico, compositor, cantor, cineasta e ator. Com 16 anos de carreira profissional e mais de 20 anos de estudos, herdou também a inquietude, a sensibilidade e o tom questionador, enquanto artista e ativista engajado em movimentos políticos e sociais. O artista de 31 anos faz parte do grupo Nós do Morro, escola e cia de teatro da comunidade do Vidigal, onde fez seus primeiros trabalhos nas artes cênicas com apenas 10 anos de idade.
Ficha técnica:
Cacumbú
Música de Sérgio Ricardo
Interpretação, teclado, violão, flauta peruana, bat. El.
João Gurgel
Produção musical e arranjo
João Gurgel
Animação, Fotografia, edição e finalização de vídeo
João Gurgel
Baixo elétrico e Aboio (vocal)
Bororó Felipe
Bateria
Kuteer Vollmer
Mixagem
Fellipe Mesquita
Micah el Tuhu
Gabriel Tavares
Masterização
Micah El Tuhu
Assistente de produção
Luã Batista
Samurai
Assessoria de imprensa
Carlos Pinho
Uma realização Tuhumusic e Estúdio Multimídia Vidigal
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