O músico Jorge Pescara leva na literalidade a ideia de viagem musical em seu terceiro álbum “Groove is in the Eden”. Sucessor dos elogiados “Groove is in the Temple” e “Knight Without Armour”, o disco traz versões instrumentais de músicas que vão do rock ‘Smoke on the Water’ do Deep Purple ao funk do Earth Wind and Fire (‘Brazilian Rhyme’). São releituras inventivas e vigorosas que surpreendem e tomam o ouvinte de assalto.
Jorge é um baixista de imensa projeção, sempre transitando pelo terreno do jazz, do art rock e da experimentação. Integrou as bandas ZERØ (“Eletroacustico”, “Quinto Elemento”), Dialeto (“The Last Tribe”) e JSR All Stars (“Friends From Brazil”, “Rio Strut”). Atualmente faz parte do grupo da cantora Ithamara Koorax. Em seu currículo também constam colaborações com Dom Um Romão, Luiz Bonfá, Paulo Moura, Eumir Deodato, José Roberto Bertrami, Celso Fonseca, Sergio Vid, Carlos Pingarilho, Mario Castro Neves, Lord K, João Palma, Laura Finocchiaro, o guitarrista japonês Mamoru Morishita, os compositores portugueses Fernando Girão e Paco Bandeira, além da banda prog metal norte-americana The Unified One.

A faixa que serve de cartão de visitas abrindo os trabalhos, ‘Povo’, é uma virtuose de quase sete minutos, pontuada por um baixo preciso de Jorge, interagindo com a cadenciada guitarra de Andre Sachs, azeitada pela flauta de Paulo Oliveira, a bateria de Luis Bertoni e a percussão de Nilson Dourado. Já a versão de ‘Cruisin‘ (de Larry Graham) se constitui como um samba palatável, de fácil assimilação, mas carregado na sofisticação (atenção para Andre Sachs atacando um rasgante solo de guitarra no final). O cover de ‘Come Together’ dos Beatles é um dos pontos altos. A música já ganhou várias versões, mas Pescara se saiu bem na árdua tarefa de fugir do lugar comum.
A bela faixa título foi composta em parceria com Glauton Campello (que toca o piano e teclado) e faz uma homenagem ao maestro Bob James. Outra homenagem vem em ‘Azymuth Men’ (uma das mais inspiradas do disco), ao trio Azymuth e a seu fundador José Roberto Bertrami, falecido em 2012, com quem Pescara tocou por 10 anos. Já ‘Song For Barry’ é dedicada a Barry Rogers, consagrado trombonista nova-iorquino morto em 1991. Composta pelos Brecker Brothers, foi gravada por Pescara sozinho tocando baixo de cinco cordas, EBow e loop station. Na composição em parceria com Laudir Oliveira, ‘MacumBass’, ele evoca a africanidade, enquanto ‘Song of the Exile’ acena para a musicalidade andina.
“Groove is in the Eden” é um álbum envolvente, coeso e encorpado. Daqueles que podem ganhar novas cores a cada audição. É sem dúvida o ápice de Pescara como músico autoral.
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