Ozzy Osbourne, de um jeito bem peculiar, só acertou

O mundo do rock e do metal perdeu nessa terça-feira (22) um de seus maiores ícones, indubitavelmente. Ozzy Osbourne não apenas foi o pai do heavy metal (título que é também a outros nomes como Deep Purple e até os Beatles por conta da faixa Helter Skelter, mas convencionou-se definir Ozzy e Black Sabbath como…


O mundo do rock e do metal perdeu nessa terça-feira (22) um de seus maiores ícones, indubitavelmente. Ozzy Osbourne não apenas foi o pai do heavy metal (título que é também a outros nomes como Deep Purple e até os Beatles por conta da faixa Helter Skelter, mas convencionou-se definir Ozzy e Black Sabbath como tal), ele foi o epíteto do metal head doidão, que não serve de exemplo para ninguém, terror das famílias tradicionais e dos bons costumes, consequentemente ídolo de gerações de jovens rebeldes que o viam como o porta-voz de seu desejo por confronto às regras estabelecidas por pais e professores.

John Michael Osbourne nasceu em Birmingham, na Inglaterra, no dia 3 de dezembro de 1948. Oriundo da classe operária, teve o apelido Ozzy ainda na infância (diminutivo de seu sobrenome), período bastante difícil. Vivia em uma casa de dois quartos com mais cinco irmãos, sendo três irmãs mais velhas e dois irmãos mais novos. Sofria de grave dislexia, o que prejudicou sua aprendizagem na escola. Aos 11 anos sofreu abuso sexual, trauma que o marcou pela adolescência. Aos 15 anos tentou suicídio. Vendo que não se encaixava no sistema educacional tradicional, largou os estudos aos 15 anos e teve diversos trabalhos, desde afinador de buzinas até um matadouro. Também se envolveu em roubos e aos 17 anos cumpriu 7 meses de prisão.

Ozzy Osbourne na fase Black Sabbath

O pai de Ozzy dizia que ou ele faria algo muito grandioso ou se tornaria um criminoso, presidiário. Podemos dizer que o rock o salvou. Fã de Beatles aos 14 anos, disse que ‘She Loves You’ o fez querer ser músico. E o algo grandioso de fato aconteceu em 1969 ao formar com o guitarrista Tony Iommi, o baixista Geezer Butler e o baterista Bill Ward a banda Black Sabbath. Junto com o Led Zeppelin e o Deep Purple formaram a chamada santíssima trindade do rock dos anos 1970. A atmosfera soturna veio da inspiração em filmes e histórias de terror. “As pessoas pagam para ver isso? Para sentir medo? Pode ser que dê certo”, disse Ozzy ao passar em frente a um cinema em Birmingham onde passava o filme de Mario Bava de 1963 que batizou a banda.

Ozzy em 1972

Daí, com o álbum homônimo, de 1970, inauguraram oficialmente a vertente mais temida e perseguida do rock (até os dias de hoje). A chamada fase clássica do Sabbath se completa com “Paranoid” (1970, “Master of Reality” (1971), “Vol. 4” (1972), “Sabbath Bloody Sabbath” (1973), “Sabotage” (1975), “Technical Ecstasy” (1976) e “Never Say Die!” (1978)

Ozzy teve problemas com os excessos que vieram com a fama. Os abusos de drogas e álcool o fizeram ser expulso da banda em 1979. Parecia tudo acabado. Ozzy estava sozinho, sem dinheiro, mas a sorte lhe deu mais uma chance, na forma do  Blizzard of Ozz, fundada juntamente com o guitarrista Randy Rhoads, o baixista Bob Daisley e o baterista Lee Kerslake, lançando o primeiro álbum, homônimo, em fita demo na Inglaterra, em 1980.

A sorte também lhe sorriu colocando em seu caminho a filha de seu empresário, Sharon Osbourne, com quem se casou em 1982, e com quem teve três filhos: Aimee, Kelly e Jack. Antes desse casamento, Ozzy foi casado com Thelma Riley, com quem teve dois filhos biológicos: Louis e Jessica Osbourne. Também criou Elliot Kingsley, filho de Thelma de um relacionamento anterior, que posteriormente foi adotado legalmente pelo casal. E Sharon, também virou sua empresária.

Foi nessa época um dos acontecimentos que mais marcou a carreira do artista. Tudo aconteceu quando um fã, durante o show, atirou um morcego ao palco e Ozzy, acreditando se tratar de um um boneco de borracha, mordeu a cabeça do animal e acabou tendo que tomar várias vacinas antirrábicas, que lhe causaram choques anafiláticos, entre outros problemas de saúde. Chegou-se até a ser divulgada a sua morte, que foi desmentida pelo próprio vocalista. Mas o maior marketing de sua carreira estava pronto. A partir dali nos shows era comum jogarem galinhas, pássaros, para que ele arrancasse a cabeça com os dentes.

Ozzy Osbourne e Randy Rhoads

O sucesso dos anos 1980 seguiu com os álbuns “Diary of a Madman” e “Bark at the Moon”, baixando um pouco com “The Ultimate Sin” (1986) e “No Rest for the Wicked” (1988), mas voltando com tudo em “No More Tears”, já em 1991. Em 1996 o festival Ozzfest, criado por Sharon, e que teve como chamariz a reunião do Sabbath, tornou-se o festival de metal mais concorrido enquanto existiu. E quando já não estava mais emplacando músicas inéditas comercialmente, protagonizou o reality show da MTV “The Osbournes”, mostrando seu dia-a-dia com a família. Aquela desconstrução da figura do rockstar sombrio, dando lugar a um pai de família atabalhoado que sempre grita pela esposa quando não entende nada ou não consegue resolver algo, fez com que o Príncipe das Trevas voltasse aos holofotes.

Ao longo dessa jornada, Ozzy enfrentou provações. Perdeu o guitarrista e amigo Randy Rhoads em um desastre de avião pilotado pelo motorista do ônibus da turnê durante uma folga. Mas o destino colocou em seu caminho outro guitarrista que se tornaria icônico: Zakk Wylde. Em 1989, acordou em uma cadeia ainda recobrando a consciência, não entendendo o motivo de estar ali. Descobriu que foi por ter enforcado Sharon, alcoolicamente entorpecido. Isso o deixou paralisado por minutos, segundo o próprio. A saúde pagou o preço dos excessos e uma queda de um quadriciclo em 2003, em que quase morreu e precisou realizar cirurgia para colocar hastes de aço na coluna, que ficou afetada até o fim da vida, tendo um tombo em 2019 agravando de vez essa condição. A doença da esposa, diagnosticada com câncer em 2002 também o colocou à prova. Sharon se recuperou totalmente da doença. Em 2018 fez sua última turnê mundial, dois anos após à despedida do Sabbath dos palcos. A tour seguiria até 2020, mas foi interrompida pela pandemia ano, Ozzy foi diagnosticado com Parkinson.

Ozzy no Rock In Rio de 1985

Ozzy esteve no Brasil para shows sete vezes. A primeira foi a que popularizou de vez o heavy metal por aqui, no Rock In Rio de 1985, primeira edição do evento. Nas demais, em que se incluem duas com o Black Sabbath, era sempre recebido com devoção por fãs calorosos. Sem poder concluir a derradeira turnê, a princípio por conta da pandemia, e em seguida por seu estado debilitado, Ozzy anunciou seu último ato, após uns dois anos prometendo, de algum modo, voltar aos palcos. E o fez em um megaevento que já havia entrado para a história e agora ganha novo significado, que foi o “Back to the Beginning”. No último dia 5 de julho, as maiores bandas de metal e hard rock se uniram no Villa Park, em Birmingham, terra natal de Ozzy, para homenagear o Madman e o Sabbath, para no final do evento o próprio subir ao palco (sentado em um trono por conta de suas dificuldades de locomoção) para um set da carreira solo e outro com os três ex-companheiros da banda dos anos 70, a primeira reunião completa em 20 anos, já que contou com a presença de Ward na bateria, afastado desde então. O concerto, inclusive, tem previsão de ser exibido nos cinemas em 2026.

Ozzy viveu como quis. Venceu as adversidades e driblou um futuro sombrio se tornando um grande nome da música. Distante da imagem de maldito que o fez famoso, pregava contra o ódio na humanidade, com o Sabbath vociferou contra a Guerra do Vietnã em ‘War Pigs’, um dos maiores clássicas do BS, e sempre dizia “God bless you all” (Deus abençoe todos vocês) nos shows. De maneira bastante peculiar, ao longo desses 76 anos, Ozzy Osbourne apenas acertou.

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