Para uns parece que foi ontem; para outros parece que ainda não foi lançado, de tão a frente de seu tempo, há os que defendam ser mesmo obra de um alienígena rock star. Independente disso, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars está completando quarenta anos neste mês, e o mais incrível: sem soar datado.
O ano era 1972, auge do movimento Glam. O T.Rex já havia dominado a Grã Bretanha com o disco Eletric Warrior. Músicas como Get it On (Bang a Gong), Cosmic Dancer e Jeepster viraram verdadeiras coqueluches na terra da rainha. David Bowie (nascido David Jones) já gozava de um razoável sucesso advindo de Space Oddity de 1969 e de seus dois discos anteriores a Ziggy, The Man Who Sold The World e Hunky Dory. Ambos os discos já norteavam o estilo sonoro e comportamental que viria mais adiante. O glam rock dos anos setenta (não confundir com o glam metal dos oitenta, por favor) tinha uma sonoridade simples, que remetia ao Boogie Woogie, com pitadas de sofisticação de cordas e belos arranjos, mas se distanciando da complexidade do progressivo. O que chamava mais atenção no movimento era a atitude. O glam, pregava, antes de mais nada, a androgenia (e ficava subentendida a bissexualidade), com isso, batom, maquiagem, vestidos e roupas extravagantes davam o tom. Na capa de The Man Who Sold The World, Bowie aparece de cabelos longos, maquiagem e batom. A de Hunky Dory apresenta apenas o seu rosto, maquiado e retratado com leveza evocando feminilidade. Ambos excelentes discos, mas era apenas o prelúdio do que estava por vir.
Em 1971,com um super time de artistas, Bowie entrou no Trident Studio em Londres para gravar seu ambicioso projeto. Ziggy Stardust fora concebido como um disco conceitual, seguindo a esteira de Sargent Pepper’s dos Beatles e Tommy do The Who, sobre um alienígena que cai na Terra e se transforma em um astro do rock. A intenção de Bowie era ridicularizar o nascimento o auge e a inevitável decadência de um ídolo em uma época em que tudo parece feito para durar pouco (e olha que a idéia é de quarenta anos atrás). Dentro da ambição pretendida, o projeto não poderia se limitar a um disco; Bowie encarnaria o personagem, assim, como sua banda deveria encarnar os Spiders From Mars. E sob esse título saíram em turnê por várias cidades americanas e européias. O mais curioso é que, a principio, a banda formada por Mick Ronson (guitarra), Trevor Bolder (baixo) e Mick Woodmansey (bateria) se recusava a se apresentar com aquelas “roupas de viado”. Bowie os convenceu facilmente dizendo que eles pegariam muitas mulheres daquele jeito.
Ziggy Stardust chegou às lojas britânicas em seis de junho de 1972 e foi exatamente a peça que faltava para deflagrar de vez a febre Glam. O álbum estreou em quinto lugar na Grã Bretanha e em 75º lugar nos E.U.A, isso apesar da temática um tanto niilista já impressa na primeira faixa, Five Years. A história se passa cinco anos antes do fim do mundo. A interpretação de Bowie é dramática e a música conta também com arranjos belíssimos. O primeiro single foi Starman, que ficou na quinta posição da parada britânica e em 65º na Billboard. No Brasil a música ganhou uma versão em português da banda Nenhum de Nós em 1989, com o nome Astronauta de Mármore e foi um dos grandes sucessos radiofônicos daquele ano.
Curiosamente a 5ª faixa não é de autoria de Bowie, e sim uma versão de It ain’t Easy de Ron Davies. A explicação do artista para a inserção da música fora do contexto da ópera rock foi simples: “a música é boa demais e resolvi colocar” disse Bowie certa vez quando foi perguntado. E se analisarmos bem, encaixou perfeitamente, até parece que a música foi feita para o álbum.
A faixa título apresenta um dos riffs mais poderosos da história do rock, de um inspiradíssimo Mick Ronson. Mas A frenética Sufragette City mantém o bom andamento do disco até culminar na deprê de Rock and Roll Suicide.
A chamada fase Ziggy Stardust duraria até o disco Alladin Sane, ainda mais niilista, feito em uma fase em que Bowie estava entregue às drogas e sem muita perscpectiva. Com o fim da turnê de 1973, o chamado camaleão do rock decidiu que era o fim do personagem, e no show em Londres no qual se despedia de Ziggy, deu a impressão que estava se despedindo da carreira, para desespero dos fãs que lotavam o Hammersmith.
A onda Glam passou e Ziggy permaneceu um clássico atemporal. Como não podia deixar de ser, o disco está sendo relançado em uma edição comemorativa de luxo (inclusive em vinil), com direito a nova remasterização, faixas que ficaram de fora e um DVD áudio com todas as faixas em mixagem 5.1.
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