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Lygia Fagundes Telles, a dama da literatura brasileira, morre aos 98 anos

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A escritora Lygia Fagundes Telles, conhecida como “a dama da literatura brasileira”, morreu na manhã do dia 03 de abril, aos 98 anos, em São Paulo. Ícone da literatura brasileira, ela era integrante da Academia Brasileira de Letras desde a década de 80 e já recebeu os prêmios Camões e Jabuti.

Considerada por acadêmicos, críticos e leitores uma das mais importantes e notáveis escritoras brasileiras do século XX e da  nossa história. Além de advogada, romancista e contista, Lygia teve grande representação no pós-modernismo, e suas obras retratavam temas clássicos e universais como a morte, o amor, o medo e a loucura, além da fantasia, iremos fazer o apanhado geral de sua carreira.

Vida

19 de abril de 1923 Nascimento em São Paulo (SP), Quarta filha da pianista Zazita (Maria do Rosário Silva Jardim de Moura (1900-1953) e do procurador e promotor público Durval de Azevedo Fagundes (1884-1945), que também trabalhou como advogado distrital, comissário de polícia e juiz.

1937

Termina os estudos na Escola Caetano de Campos, na qual passou a interessar-se por literatura, incentivada pelos seus maiores amigos, os escritores Carlos Drummond de Andrade, Edgard Cavalheiro e Érico Veríssimo.

1938 Publicação de seu primeiro livro, Porão e Sobrado, contos sobre moradores que moram nesses locais.

1939

Cursou o pré-jurídico e a Escola Superior de Educação Física da USP, ali partiipou de ativamente de debates literários, nos quais conheceu Mário e Oswald de Andrade entre outros.

1941-1946 Cursou a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, sendo uma das seis mulheres em uma classe com mais de cem homens; lá, conheceu a poeta Hilda Hilst, que veio a ser a sua melhor amiga. E exerceu a profissão de advogada na Secretaria de Agricultura do Estado.

1944 Publicação de Praia Viva, contos que tematizam primordialmente relacionamentos que não deram certo ou que estão esfacelados.

1947 Casa-se com o professor de Direito e Deputado Federal Gofredo Teles Júnior (1915-2009).

1949 Publicação de O Cacto Vermelho, o qual recebeu o Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras.

1951-1954 Período que escreve e publica seu primeiro romance, Ciranda de Pedra, que a tornou conhecida nacionalmente. A narrativa trata de Vírginia, que após a separação dos seus pais, é a única das três filhas que vai morar com a mãe. É do ponto de vista dessa menina deslocada e solitária que se narram os dramas ocultos sob a superfície polida da família. Sua popularidade é tão grande que rendeu duas telenovelas da Rede Globo, uma em 1981 e a outra em 2008.

1954 Nascimento de seu único filho, Goffredo da Silva Telles Neto.

1958 publica o livro de contos Histórias do Desencontro, o qual ganhou o Prêmio Artur Azevedo do Instituto Nacional do Livro.

1960-1961 Se separa, mas não se divorcia, de Goffredo; no ano seguinte, começou a trabalhar como advogada no Instituto de Providência do Estado de São Paulo.

1963 Escreve Verão no Aquário, que novamente foi bem recebido pela crítica e ganhou o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro. Um romance com uma atmosfera de tragédia grega, a narradora Raíza revela seus traumas e dramas. O principal deles: a relação conturbada com a mãe, Patrícia. Com a chegada do jovem seminarista André, Raíza acredita que o rapaz tem um caso com a mãe e passa a disputá-lo.

Naquele mesmo ano, casou-se com o crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes, amigo da época da USP, a quem descreveu como “um homem encantador, inteligente, vibrante, irônico”. Foi um escândalo: embora oficialmente continuasse casada (a lei brasileira não admitia o divórcio) com Goffredo, ela juntou-se com Paulo Emílio, enfrentando a maledicência da sociedade da época. Viveram juntos até a morte de Paulo em 1977.

Finais do anos 1960 Escreve romance As Meninas, inspirado no momento político em que passava o país, além de seus livros de contos Histórias Escolhidas (1964) e O Jardim Selvagem (1965).

Consagração internacional

A década de 1970 Lygia alcançou a plena maturidade de seus meios de expressão e marca o início da sua consagração na carreira, tornando-se um nome fundamental na ficção brasileira contemporânea. Publicou, então, alguns de seus livros mais importantes, os quais foram um êxito no exterior e traduzidos para várias línguas. Antes do Baile Verde (1970), cujo conto que dá título ao livro, foi um sucesso internacional, conquistando, em Cannes, o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros, em língua francesa.

O premiado As Meninas (1973), conta a história de três jovens no início da década de 1970, um momento difícil na história política do Brasil devido à repressão da ditadura militar. A escritora estava entre os intelectuais que foram para Brasília em 1977, para entregar o “Manifesto dos Intelectuais”, um protesto contra  o regime militar e censura da imprensa.

E veio Seminário dos Ratos (1977) e o livro de contos Filhos Pródigos (1978), como também partiipando de antologias com grandes nomes da literatura brasileira.

1977 Assume a direção da Cinemateca Brasileira.

Os anos 1980 e a Academia Brasileira de Letras

A década começa com a publicação de A Disciplina do Amor (1980), foi bem recebida pela crítica e ganhou o Prêmio Jabuti; e Mistérios, uma coletânea de dezenove contos fantásticos antigos e atuais.

Em 1982, foi eleita para a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras e, em 1985, por 32 votos a 7, foi eleita, em outubro, para ocupar a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras, na vaga deixada por Pedro Calmon, tomando posse em 12 de maio de 1987.

Questões relacionadas ao envelhecimento e à solidão estão presentes em seu trabalho seguinte, o romance As Horas Nuas (1989), no qual o leitor segue o desnudamento da personagem Rosa Ambrósio, com suas frustrações expostas nas memórias que ela dita num gravador.

Os anos 1990 em diante

Se aponsenta como funionária pública em 1991, e traz mais livros de contos como A Noite Escura e Mais Eu (1994) premiadíssimo; Invenção e Memória (2000), entre outras publicações.

Em 2005, recebe o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa, um ícone literário que foi alvo de muitos trabalhos científicos, monografias e teses. E que sua voz continue…

Descanse em paz

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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