Batman Ano Um não é tão badalada quanto outras graphic novels do Morcego ou mesmo de Frank Miller, como por exemplo “O Cavaleiro das Trevas”, “A Piada Mortal” de Alan Moore, “Elektra Assassina” e “Ronin”, mas sem dúvida é uma das obras mais importantes já realizadas com o Cruzado de Capa. O ano era 1987 e a DC Comics estava reformulando a origem de seus personagens após Crise nas Infinitas Terras, a minissérie que restruturou o Universo DC. Neste cenário, John Byrne acabou encarregado do Superman e George Pérez da Mulher-Maravilha, e para fechar esta trindade dos heróis DC alguém precisava mudar o Batman para uma nova geração.
Sabendo da oportunidade de reformular a origem do personagem, Miller, que um ano antes havia trabalhado o futuro sombrio do Batman em O Cavaleiro das Trevas, ofereceu-se para recontar o passado do personagem. Assim, durante as edições 404 à 407 da revista mensal Batman, ele e David Mazzucchelli foram muito além de recriar os primeiros passos do personagem – e Batman Ano Um se tornou uma das melhores obras dos quadrinhos.
Como o próprio nome sugere, a série reconta os doze primeiros meses de Bruce Wayne iniciando sua trajetória como Batman, mas o grande trunfo da obra é dividir a narrativa entre o protagonista e o então tenente James Gordon, de maneira que nos é mostrada duas visões distintas da busca por justiça na corrupta Gotham City. A visão de James Gordon, um policial novato na cidade, é marcada por longos diálogos e caixas de pensamento, já Bruce Wayne possui menos textos, uma maneira de Miller indicar que o personagem não somente se mantém mais concentrado, mas também possui uma personalidade mais tenebrosa e que reflete em suas ações como um vigilante fora-da-lei. Essa divisão narrativa é um artifício muito interessante utilizado pelo autor, pois lhe permite culminar numa grande transformação para ambos os personagens até o final da série. Maiores detalhes sobre o enredo desta obra não serão citados, já que além de ser uma leitura obrigatória, este trabalho de ler a história também flui muito melhor quando sabe-se pouco ou nada sobre ele. Sendo assim, vamos falar da arte 😀
Ano Um é extremamente feliz por contar com a espetacular arte de David Mazzuchelli, desenhista formado pela Rhode Island School of Design e colaborador da revista The New Yorker, e cores de Richmond Lewis, que dá um tom noir para toda obra. O trabalho de Mazzuchelli apresenta traços clássicos e perspectivas à altura da narrativa de Miller, dando o tratamento merecido a origem do Morcego definitiva. Um detalhe interessante é que David saiu dos quadrinhos por muitos anos depois deste trabalho, fazendo apenas algumas coisas esporádicas e explorando um pouco do lado independente desta arte.
Um detalhe que vale ser lembrado é que esta obra também foi a grande fonte para o desenvolvimento do filme Batman Begins, que mudou pra sempre a visão do personagem para o público em geral que vai ao cinema.
Batman Ano Um é uma leitura indispensável para quem gosta de uma boa literatura, pois a obra alcançou pontos tão altos dentro de sua própria arte que consegue ultrapassá-la, tornado-se uma grande influência narrativa policial e noir.