Quando, no final do ano passado, chegou em minhas mãos a revista Golden Shower, fiqui pasmo e…
Ah, mas quem estou tentando enganar? Eu acompanhei a gestação da GS desde o princípio, inclusive nos créditos consto como “editor assistente”, numa traquinagem da editora, Cynthia B. Na verdade a única coisa que fiz de concreto pela revista foi redigir um modelo de carta de recusa de quadrinhos – hahahaha – , scanear algumas páginas e ceder alguns trabalhos.
Bom, o negócio é tentar ser imparcial, certo?
ERRADO. No “Fortuna crítica” serei totalmente parcial, rancoroso, cruel e exercerei meus pequenos poderes. Melhor já ir avisando.
Golden Shower é uma espécie de encontro de gerações. Temos as tias Fabio Zimbres, MZK, Schiavon e eu, e o pessoal mais jovem que atualmente manda brasa nas revistas Samba, Beleléu e Tarja Preta, como Gabriel Góes, Tiago Lacerda, Daniel Paiva, Chiquinha e mais uma cambada.
A capa já entrega que vem chumbo grosso: uma garota nua montada num pégasus sob as gotas da famosa chuva dourada… Não, realmente não é uma revista que você vai encontrar na sala de espera do dentista. E se encontrar, melhor sair correndo.
Além das minhas páginas simplesmente GENIAIS, a revista tem grandes momentos, destacando-se:
- A adaptação de Cynthia B. para um conto de Chuck Palahniuk ligeiramente repulsivo. Cynthia tem um desenho solto feito com pincel e a adaptação fica no tom certo, ou seja: uma versão da história desenhada por ela, não um mero resumo para idiotas, como é muito comum nas adaptações de literatura para quadrinhos;
- Uma história desenhada a seis mãos por Gabriel Góes, Gabriel Mesquita e LTG, o time da Samba. Aliás, o pôster central que se desdobra na revista é de autoria também de Gabriel Góes. Gabriel é um monstro que alia espantoso domínio técnico com um poder de síntese de quem realmente entendeu o que significa o termo “pop”;
- Plinio Fuentes e sua narrativa sobre uma senhora e seu ventríloco. Desde já é um dos preferidos da casa com seu desenho sujo que transpira urgência.
Poderia encerrar essa resenha comentando sobre a atual boa fase dos quadrinhos independentes, com tanta gente boa e publicações bem editadas, blábláblá, mas simplesmente não acredito nesse termo, “independente”. Os quadrinhos são divididos em três categorias, não importando se são publicados por uma grande editora ou com as moedas guardadas no cofre do porquinho: Lixo Sem Alma, Lixo Pretensioso e Quadrinhos Bons.
O número 1 da revista Golden Shower sem dúvida pertence a última categoria.
[xrr rating=4/5]
Yiihii! Dane-se a imparcialidade! Valeu, Tio Allan!
Achei bem interessante. Onde eu compro essa Golden Shower?