Fortuna Crítica: Wilson, de Daniel Clowes

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Desde “Pussey”, onde narrava as peripécias de um desenhista nerd (sério??) de super-heróis, Daniel Clowes não lançava um álbum tão engraçado como esse recente “Wilson”. Quer dizer, não se trata de humor escrachado, na verdade é um humor agridoce e ultramelancólico, mas puta que pariu, como é engraçado. Ás vezes tende para a grosseria e o nonsense, lembrando as tiras do saudoso Cowboy Henk, da dupla belga Kamagurka e Herr Seele, que saíam na gloriosa revista Animal (Alô, Conrad: depois do Ranxerox caía bem lançar um álbum do Cowboy Henk. Que tal?)

Eu acho esse americano uma espécie de Woody Allen dos quadrinhos: alterna humor sofisticadíssimo com narrativas densas e sérias. A quem o compare com David Lynch, mas isso é só por conta do estranhíssimo “Como uma luva moldada em ferro” e da preguiça vigente quando se trata de resenhar quadrinhos.

Pois bem, Wilson é um tipo de 43 anos rumo á calvice que mora sozinho com seu cachorro em Oakland, Califórnia. Lugar que ele odeia, diga-se de passagem. Misógino, inconveniente, intratável e completamente inábil no trato com seu semelhante, Wilson segue na sua vidinha de merda até receber a notícia de que seu pai está doente. Isso o motiva a fazer uma viagem até suas origens e é aí que o livro começa de verdade, com um desajeitado Wilson tentando – á sua maneira torta, é claro – acertar as contas com seu passado. Se tínhamos a impressão de que ele é um idiota, o espanto só cresce á medida que conhecemos sua vida pregressa. Na verdade ele até que melhorou…

A segunda metade do livro é uma montanha russa de situações constrangedoras até chegar na página final, onde temos um dos melhores finais de todos os tempos, brilhante, para dizer o mínimo.

Na verdade eu sinto um pouco de inveja de Wilson, ele não faz concessões e investe com força no seu entendimento distorcido do mundo. Ele é feliz e não sabe. O semiautismo é uma benção. Como podemos não simpatizar com alguém que manda pelo correio para a ex-cunhada uma caixa cheia de merda de cachorro? Ou que destrata sem clemência o idiota motorista de uma pickup (eu ODEIO esses filhos da puta que compram esse tipo de carro imbecil para rodar na CIDADE) que lhe pede informações sobre como chegar a um lugar? Go, Wilson, GO! Retiro o que eu disse, você não é um idiota, e sim um exemplo a ser seguido.

Daniel Clowes nos esfrega na cara como é excelente desenhista, alternando em cada página estilos diferentes e sempre irrepreensíveis na sua execução. Aliás, cada página é um capítulo perfeitamente fechado. Sabe contar uma história, esse Sr. Clowes.

[xrr rating=5/5]

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6 thoughts on “Fortuna Crítica: Wilson, de Daniel Clowes

  1. Queria saber o final sensacional!! Me conta em off Allan!?

  2. Muito foda! Teve gente que torceu o nariz pra Wilson, mas é uma das coisas mais inteligentes e entretidas que li nos últimos tempos.

  3. Já tem pra vender aqui no Brasil? O Clowes me teve no Ghost World, que é minha obra favorita dele. Obra que, aliás, nunca foi lançada aqui no Brasil porque os imbecis da industria literária que preferem publicar coisas estúpidas de filhos da puta sem talento como o Danilo Getilli e outros idiotas.

    Confio no seu bom gosto, Allan, vou dar uma procurada nesse Wilson.

  4. Kainã, Ghost World está sendo lançada no Brasil pela Gal Editora.

  5. “A quem o compare com David Lynch (…)”, Allan?
    Não era pra ser “HÁ quem o compare com David Lynch” ?

    Fora isso, vários acentos tônicos no lugar de crases…ê, Allan, Ê, ALLAN!