Reboot DC Comics: 52 Revistas para um Mundo Novo

[Este artigo contém spoilers]

A DC Comics vai mudar tudo. Quem acompanha quadrinhos sabe que as duas maiores editoras do mercado estadunidense, Marvel e DC, vivem anunciando isso todo mês. Mas o que nenhum destes leitores esperavam é que os boatos sobre um reboot total da cronologia da editora virassem realidade. Começando em setembro, a DC Comics dá o start a um Universo totalmente novo.

Fazendo um breve histórico dos eventos editoriais, tudo começou com a Crise Final de Grant Morrison em 2008. Especulava-se que a palavra “Final” no título não era apenas para “finalizar a triologia das Crises” como foi anunciado na época, mas sim que significasse o final absoluto do Universo DC para o início de um novo. Aos poucos as discussões editorais tomaram vida na internet e, até poucos meses, sabia-se apenas que Morrison havia brigado com Dan DiDio pois a história precisou de mudanças de última hora devido a alguns vetos misteriosos.

Agora sabemos da verdade: o reboot da DC Comics aconteceria logo no término da Crise Final (o que explica por completo as duas últimas edições, criticadas por muitas pessoas por serem “sem sentido”), mas foi Paul Levitz quem vetou. A história concluiu-se em fevereiro de 2009 lá fora e poucos meses depois uma revolução aconteceu: Levitz foi exonerado do cargo de vice-presidente e rebaixado a mero escritor; Geoff Johns, com apoio do próprio Morrison, tornou-se diretor de arte; Dan DiDio, que nem havia brigado com Morrison na verdade, tornou-se co-publisher junto com Jim Lee. A DC Entertainment nasceu.

Durante todo o ano de 2010 algumas medidas foram tomadas e grande parte dos fãs discordou delas. Sabendo que teremos um reboot agora, tudo fica mais claro. A Mulher-Maravilha mudou de uniforme para caber neste novo universo; J. Michael Straczynski deixou seus títulos mensais para trabalhar somente em Earth One, mas agora sabemos que isso deu-se devido ao reboot; todo o universo recente do Superman foi eliminado numa guerra, para dar lugar aos básicos novamente; Bruce Wayne anunciou a criação da Batman Icorporated, empresa que financia Batmen de várias nações.

O anúncio mais pesado foi Flashpoint. A saga que teria o Flash em foco, numa realidade mudada em nossa Terra, e que seria feita pelas estrelas Geoff Johns e Andy Kubert, só foi ganhando mais detalhes a partir deste ano. Aos poucos foi ficando claro que a DC Comics planejava algo grandioso para setembro, pois Flashpoint acabaria em agosto e nada sobre o mês seguinte era falado. Artistas terminariam seus arcos, revistas estavam chegando ao fim. Pouco depois, com as especulações já apontando pra isso, a DC confirma um reboot total no melhor estilo Crise nas Infinitas Terras.

Action Comics de Grant Morrison

O novo Universo DC possui algumas características muito interessantes para quem já estava esperando um reinício total para facilitar a leitura, ou mesmo para quem quer começar a comprar revistas de super-heróis. O primeiro fator é que todos são mais jovens que na cronologia atual. Outro detalhe muito importante, e que certamente muda toda a ótica do reinício, é que a grande maioria das revistas terão seus primeiros arcos acontecendo no passado, para que as origens destes personagens sejam bem estabelecidas.

Tendo este ponto definido, a DC Comics fez questão de frisar que há dois grandes pilares nos quais todo o novo UDC será desenvolvido. O primeiro é Action Comics, revista mais clássica da editora e que volta ao número um depois de 73 anos, mostrando o novo Superman. A revista fica por conta do premiado e controverso Grant Morrison, que prometeu fazer um Superman mais cru, visto com maus olhos pela sociedade mundial, de volta à criação mais básica de Joe Shuster e Jerry Siegel. Portanto, é muito possível que ele só aprenda a voar bem depois de já saber quem é.

O segundo pilar é a Liga da Justiça. Agora a equipe não se chama mais Liga da Justiça da América, o que faz parte de uma iniciativa da DC Comics de internacionalizar todo seu UDC. Formada agora por Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Aquaman, Lanterna Verde e Ciborgue, a Liga terá uma nova origem também. Heróis mais novos, ou totalmente revisitados, passarão pela mesma situação. O Batman, cujo universo foi muito bem estabelecido por Morrison nos últimos cinco anos, permanece igual, apenas com os personagens mais jovens (Nota: Dick Grayson também não é mais Batman, voltando à sua identidade de Asa Noturna).

Liga da Justiça Oculta, por Peter Milligan

A questão nesse emaranhado todo de coisas são as decisões muito boas e muito ruins tomadas pela DC Comics. Se por um lado temos escritores novatos e que já mostraram a excelente qualidade de seu trabalho cuidando de títulos importantes (tais como Paul Cornell, Jeff Lemire, Peter Tomasi, Scott Snyder e Tony Bedard), temos nomes que causam tremor a quem acompanhou os anos 1990. Estão aí Scott Lobdell, Brett Booth, Fabian Nicieza e, pasmem, Rob Liefeld.

Há sim o benefício da dúvida. Nicieza renovou-se completamente e tem sido muito bem direcionado na editora. Rob Liefeld não deve influenciar em roteiros, ficando apenas com artes. Outro desenhista que vem tentando melhorar muito seu traço é Brett Booth, responsável pelos Novos Titãs. Sendo assim, nem tudo é tão ruim.

A maior mudança neste novo Universo DC, curiosamente, pra quem analise bem detalhadamente, não é a mudanças cronológica e sim os grupos de revistas, todos voltados aos tipos mais diversificados de público para atingir a todas as necessidades de quem quer ler algo em quadrinhos. Há a linha adulta, a linha super-heroica, a linha mágica, a da ficção científica, da ação e tudo mais.

Homem-Animal, pelo psicodélico Jeff Lemire

Dentre os títulos mais interessantes, e que certamente foram feitos para chamar a atenção dos públicos adulto e veterano para quadrinhos culturais e/ou bem feitos, estão as revistas da linha Edge. Estão nela Blackhawks, a volta do Stormwatch, Grifter, OMAC, All-Star Western, Sgt. Rock and the Men of War e Deathstroke. Cada um destes títulos tem propostas totalmente inovadoras e já chamaram a atenção de todos logo em seu anúncio.

Outra grande surpresa foi a volta completa do escritor inglês Peter Milligan para o Universo DC com a Justice League Dark. Tal revista cuidará dos temas mais sombrios do UDC, com um grupo surpreendentemente protagonizado por John Constantine, Shade, Desafiador, Zatanna e Madame Xanadu. Pra fechar há também a volta do Monstro do Pântano, por Scott Snyder (Vampiro Americano), um dos melhores nomes que a DC Comics tem hoje. Snyder, além de revolucionar a visão de vampiros em quadrinhos na Vertigo, também é grande fã do Monstro de Alan Moore, e pretende continuar o trabalho com todo o respeito ao mago inglês.

Stormwatch está de volta, pelo inglês Paul Cornell

Em forma de curiosidade, e também informações detalhadas, vamos conhecer os 52 títulos da nova DC Comics (todos são número um):

[Para detalhes de cada revista e cada equipe, bem como as sinopses oficiais, clique aqui]

A verdade é que há muita desconfiança e muita esperança a respeito do novo Universo DC. Após o anúncio de Jim Lee de que as revitas sairão simultaneamente nas lojas especializadas e nas lojas online da AppStore e do comiXology, ficou claro que a DC quis uma revolução completa. Pela primeira vez na história os quadrinhos são lançados em papel e em formato digital simultaneamente, num planejamento que envolve queda de preços após algumas semanas para facilitar as compras.

Falcões Negros viram tropa de elite mercenária

Quando a Crise nas Infinitas Terras aconteceu, a cabeça dos fãs virou do avesso. Quem continuaria comprando revistas que foram reiniciadas? Como seria o futuro? Estas perguntas estão no ar novamente. Certamente muitas pessoas vão abandonar a DC e os quadrinhos. Entretanto, a editora já vem percebendo o interesse de gente que quer começar a comprar após ter visto a grande cobertura do evento em locais como USA Today, The New York Times, Los Angeles Times e até na CNN.

Com tamanha negatividade e tamanha positividade, a DC Comics está fazendo o que todo Lanterna Verde faz – tendo muita força de vontade nas novidades. O reboot, que acabou virando uma necessidade de última hora, acabou por ganhar um planejamento grande e vai mexer nos quadrinhos como nunca aconteceu antes, graças à internet e a velocidade da informação.

Dick Grayson vira Asa Noturna novamente

 

Numa era em que tudo corre rápido demais e as pessoas querem instantaneidade, a decisão não poderia ser melhor. Os fãs americanos estão loucos para saber o que vai acontecer. E nós também.

Sair da versão mobile